Destaque:

Estado brasileiro na encruzilhada. Já sabemos o que a Globo quer... e você?

Queria poder dizer que criei esta montagem, mas não... recebi de um seguidor no Facebook, como comentário a um artigo anterior. rs ...

12.11.16

Dilma & Trump: Parte 2 de "Apertem os cintos e respirem fundo: eleições agora serão como a de Trump. E em todo o mundo!"


Dilma & Trump:

Parte 2 de "Apertem os cintos e respirem fundo: eleições agora serão como a de Trump. E em todo o mundo!"


Por Romulus


Parte 2: teste das teses desenvolvidas na Parte 1.


Casos concretos:

A eleição de Dilma Rousseff e, a seguir, o golpe de Estado de 2016; e

– A eleição de Donald Trump nos EUA.

*

(i) Caso 1: a eleição de Dilma Rousseff e, a seguir, o golpe de Estado de 2016

Não há sequer a necessidade de elaborar muito...

Poupo-me e lembro trechos da Parte 1:

A disputa [eleitoral] se dá entre o “A” e...
– ... o “anti-A”.
E não mais contra “B”, “C”, ou “D”.

PT e anti-PT.

Certo?


– Diante da briga entre opostos absolutos, a derrota de cada campo representa uma derrota ~ total ~.
– Assim, as partes tendem a radicalizar o discurso: “é ‘A’ ou nada!” vs. “é ‘anti-A’ ou nada!”.

– Foi a radicalização, a polarização e o acirramento das duas bases sociais antagonizadas que permitiu a ascensão [no caso, permanência] do polo de turno ao poder.

Por que digo isso também para o caso de Dilma?

Porque no início de 2014, mais de 70% do eleitorado brasileiro dizia “querer mudança”.

Isso levou Dilma, inclusive, a adotar o slogan de campanha “para seguir... mudando, não foi?

Contradição em termos?

Bem... aí vale a disputa pela narrativa:

– O lado anti-PT dizendo que sim... e que é ele quem encarna a mudança; e

– Dilma dizendo que não... que a (“verdadeira”) mudança começou com Lula e que com ela seguiu, para, finalmente concluir com o slogan...

– ... (sim) seguir... (mas) mudando”.

Certo? (2)

*

Saindo da discussão semântica e passando para a briga objetiva (e fria) dos números:

– Se 70% do eleitorado queria mudança, não foi bem Dilma quem ganhou a eleição...

– ... foi o PSDB quem perdeu, ora!

Lembrem-se:
– A disputa eleitoral se dá entre o “A” (de Aécio?) e...
– ... o anti-A. Naquela circunstância eleitoral, Dilma.

Ou seja:

– Na verdade, saiu vencedora a rejeição ao programa de governo do PSDB, ao qual a cidadania brasileira disse não nas urnas por 4 (!) vezes seguidas.

Obviamente a escolha de um candidato fraco e com enorme “capivara”, Aécio Neves, matou de vez as chances de vitória do seu campo.

*

E não obstante...

Ainda assim houve:
Eleições radicalizadas, polarizadas e acirradas, na base do 51% vs. 49%, com faca nos dentes dos dois lados...

Quem não se lembra da guinada à esquerda no discurso, no segundo turno, que possibilitou a estreita vitória de Dilma?

*

“Muito bem”, Dilma!

Mas faltou outro trecho da Parte 1 a você:

Através da dinâmica de identidade política não pela afirmação, mas pela negação do outro (a “antagonização” discutida acima), [opor-se à base social da parte derrotada logra] fidelizar a ~ sua ~ base social e mantê-la mobilizada para além do calendário eleitoral.

Captaram?

Se não, ilustro com uma imagem.

Vale mais que mil palavras, não?

Parafraseando o enunciado acima, coloco aqui a foto daquele que não só ~ não ~ fidelizou, mas, ao contrário, alienou totalmente a base social de Dilma, impedindo que se mantivesse mobilizada para além do calendário eleitoral.

Nas palavras do Nassif, eis o “coveiro de Dilma”:

Joaquim Levy

E termino a análise do caso de Dilma repetindo mais duas passagens da Parte 1:

Como resistir ao assédio do outro lado – com, no mínimo, guerra de guerrilha diuturna no mercado de opinião e, no máximo, sabotagem e golpismo – sem manter a sua base (1) radicalmente contrária ao outro lado e (2) mobilizada?

Não tinha como, <<Presidenta>>!

E mais:

Mudança de governo com alternância de poder representa, na política e na economia, guinadas radicais, quando não de 180o graus.

O “centro”, mais do que nunca amorfo, não tem mais força ou autonomia para coibir a exacerbação ideológica nas opções políticas do governo de turno, A ou “Anti-A”.


“Centro” ainda?

Tem quem goste... principalmente gringo de olho nos títulos gordos da dívida:

E tem quem não goste nem um pouco:

PEC 241?

– Nem FHC, com Pedro Malan, Gustavo Franco e Armínio Fraga debaixo do braço (ou seria o contrário?), ousou tanto!

Como falar ainda de “Centro” nesse cenário?

Correto?

Notem: Temer é o cúmulo do amorfismo do “Centro” político (grafado com muuuitas aspas no caso brasileiro mesmo).

– Era Presidente da Câmara sob Lula, eleito em acordo com o PT;
– Foi escolhido vice de Dilma nas suas duas eleições;
– Traiu-a e articulou o golpe; e...

– Na sequência, compõe governo com o polo rival, que ~ acabara ~ de sair derrotado nas urnas pela 4a vez seguida!

e...

– Dá – ainda no interinato! – guinada de 180º, implementando, na condição de Vice-Presidente de uma chapa, o programa eleitoral da chapa contrária!

– E sem nova eleição!

Só no Brasil...

*

(i) Caso 2: a eleição de Donald Trump nos EUA

Será que as teses da Parte 1 também se aplicam?

Evidente que sim!

A particularidade do sistema americano é que sempre foi bipartidário.

Mas isso não significa que não houvesse “Centro” no espectro político!

– Ora, não houve sempre os “Republicanos moderados” e os “Democratas moderados” no Parlamento (e mesmo na Presidência)?

Pois esses são o “Centro”:

– Aqueles que, independentemente de, p.e., controlarem uma casa do Legislativo durante o mandato de um Presidente do partido rival, não o sabotam e, muito menos, inviabilizam-no.

Pragmáticos e negociadores, dão também estabilidade ao sistema. Coíbem, do seu lado, o golpismo e evitam, do outro, excessos ideológicos do governo do partido rival. Fazem isso amarrando-o a acordos comuns, realizando um meio termo programático, conquistado através de concessões recíprocas em negociações.

“Melhor um mau acordo do que uma boa briga” seria o seu lema, não?

*

E quem são os polos, “A” e “Anti-A”, lá nos EUA?

Democratas e Republicanos?

Bem... mais ou menos...

Depende da ocasião político-eleitoral.

Mas, grosso modo, os melhores representante seriam, de um lado, o Tea Party – na sua simbiose com (e dentro) do Partido Republicano – e, do outro, o Congressional Progressive Caucus, a bancada “progressista” do Partido Democrata, liderada por não outro que...

–... Bernie Sanders!

*

E o “Centro”?

O que aconteceu com ele ?

– Ora, o mesmo que descrevi acima: derreteu no ambiente de polarização / radicalização / acirramento.

Notem:

– Nas midterm elections enfrentadas por Barack Obama – ele mesmo alguém que polarizava o eleitorado (“devisive President”, como chamam os analistas...) – houve a ascensão do...

– ...Tea Party!

O seu antípoda, não?

Que cresceu, principalmente, às expensas não dos eleitores de Obama, mas dos Republicanos moderados.

Ou seja: do Centro!

E lembram desse techo aqui?

Como resistir ao assédio do outro lado – com, no mínimo, guerra de guerrilha diuturna no mercado de opinião e, no máximo, sabotagem e golpismo – sem manter a sua base (1) radicalmente contrária ao outro lado e (2) mobilizada?

Pois com a ascensão do Tea Party Obama não caiu como Dilma, mas chegaram até a tirar a tinta da caneta dele!


*

E com Trump?

– Alguma dúvida de que nas midterm elections enfrentadas daqui a dois anos por Donald Trump quem crescerá será o Progressive Caucus, de Bernie Sanders, às expensas dos moderados do Partido Democrata, como Hillary Clinton?

Aposto nisso.

Aliás, vários analistas têm – somente agora... – chegado à conclusão de que o melhor candidato para enfrentar o ~ radical ~ Trump teria sido outro radical”, mas de sinal trocado.

Ele mesmo: Bernie Sanders. E não Hillary Clinton...

Faz sentido, não?

Donald Trump não ganhou porque teve uma votação expressiva.

Pelo contrário:

– Teve menos votos do que todos os candidatos Republicanos anteriores!


E como ganhou então?

“Apenas” (algo não trivial...), mobilizou, em seu favor, os ~ homens brancos sem nível superior ~

Tira-los dos Democratas – antes eram eleitores cativos da sigla – foi o suficiente para faze-los perder em Michigan, Wisconsin e Ohio, parte do chamado “Rust belt, o Cinturão do “ferrugem”!


Cinturão do Ferrugem?

Sim:

– O decadente – e agora falido! – berço da industrialização americana.

O Cinturão é muito bem representado pela cidade de Detroit, sede da indústria automobilística desde o fordismo. Pois está literalmente ~ falida ~ com uma dívida de 18 bilhões de dólares.

[Nota: diferentemente da brasileira, a legislação americana permite que entes públicos declarem falência]

Pois Hillary Clinton ignorou o (ex!) proletariado precarizado desses Estados, supondo que eram eleitores cativos – como antes – do Partido Democrata:


Notem:

Michigan e Ohio ~ não ~ são – ou pelo menos não eram – “swing States”, os Estados que votam ora Democrata, ora Republicano.

São – bem... eram... – solidamente Democratas.

Fazem parte – bem... faziam parte... – da chamada “blue wall (!)” Democrata: a “muralha” de Estados “azuis” que separava o Nordeste dos EUA, Democrata, do Meio-Oeste e do Sul Republicanos.

Pois nesses dois Estados – e mais em Ohio (esse sim um “swing State”) – Donald Trump ganhou por margem estreitíssima de votos.

E fez isso justamente ao atrair para si os tais dos ~ homens brancos sem nível superior ~, que votavam Democrata.

– Assim ganhou a presidência!
Como?

Respondo:

– Na peculiaridade do sistema eleitoral americano, com os votos no colégio eleitoral desses três Estados, Trump ultrapassou Hillary Clinton.

E isso a despeito de essa ganhar no voto popular em nível nacional!

Pois bastou a Trump tirar os votos do (ex) proletariado branco precarizado para derrotar Hillary nesses Estados chave.

Sem os “white blue collar”, a chamada " Obama coallition" – geração millennial + minorias (gays, negros, latinos...) – não foi mais suficiente para ganhar ali.

Na verdade, Trump ganhou justamente jogando os “white blue collar men”, precarizados, contra essas minorias!

Venceu dividindo!

Não unindo...

*

Discordam?

Pois vejam esse mapa ~ escandaloso ~ com os votos quebrados por grupos demográficos.



Ou seja: venceu o candidato do ~ homem + branco ~ contra a candidata das mulheres, dos negros e dos latinos. 

Convém lembrar que democracia não é a ~ ditadura ~ de uma maioria, mas "apenas" o ~ governo ~ dessa maioria.

E isso sob uma Constituição que proteja os direitos e garantias das minorias, inatacáveis numa verdadeira democracia  pela maioria de ocasião.

Notem outra coisa interessante:

Com a divisão por gênero que imperava no mercado de trabalho (“imperava”? não mais impera?), a ~ mulher ~ branca da classe trabalhadora – chamada pelos analistas de “waitress mom” (!), a“mãe garçonete”, aquela que trabalha não na indústria mas no setor de serviços – já votava Republicano desde a vitória de Clinton em 1992.

– do Bill... não a Hilary!

(bem... como sabemos, na verdade, na dinâmica daquele casal, a vitória foi dos dois. Ou até mais dela, o “cérebro”, do que dele)

O jovem governador do Arkansas, boa estampa e carismático, foi o último candidato que conquistou o voto da waitress mom.

*

Bill contava, ainda, com o célebre “é a economia, estúpido!”, certo?

Antes...

... e depois, na companhia de um famoso pé frio.

Que ironia da História!

Pois agora foi justamente “a economia, estúpido!” quem derrotou a sua esposa, Hillary.

– Ora, mas a economia americana não está bem?

– Não segue na sua recuperação pós-crise de 2008, crescendo há vários trimestres consecutivos??

Não!

Economia não é bolsa subindo... economia é pão na mesa!

Infelizmente para o establishment político, do qual Hillary faz parte, como também fazia, p.e., Jeb Bush do lado Republicano...

– ... “economia” ≠ ganhos de Wall Street!

O PIB pode crescer nominalmente com os ganhos da finança e dos rentistas. Mas, como sabemos, isso apenas exacerba a já escandalosa concentração de renda, já recorde em toda a História humana.

Depois de 10 mil anos de civilização – 10 mil para nós que não somos criacionistas... – foi justamente em 2016 que o célebre “1%” pela primeira vez passou a deter mais riqueza do que todo o “99%” somado (!).

Enquanto sobem do chão os apartamentos de luxo em Manhattan – como os da Trump Tower! – o “Cinturão do Ferrugem” segue no seu processo de precarização e falência. Rumo já à indigência!

*

Michael Moore avisou

Vários leitores compartilharam, quando saiu o resultado da eleição americana, um artigo do cineasta Michael Moore, em que ele prevê, 4 meses antes, a vitória de Trump.

– Ora, como não?

Pois Moore é filho de um proletário que trabalhou a vida inteira na fábrica da GM em Flint, Michigan.

Justamente o tal do “white blue collar man” do “Rust belt

Portanto, Moore sabe beeem do que fala...


*

Vamos ao cinema hoje?

Fecho, portanto, com uma recomendação mais política do que cultural:



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Atualização 13/11:

Cristina Kirchner avalia razões da vitória de Trump nos EUA.

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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como "uma esquerdista que sabe fazer conta". Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

2 comentários:

  1. Uma observação: eu não colocaria Presidenta entre aspas. Por duas razões: tendo em vista a ilegalidade do dito impeachment, ela continua, teoricamente a Presidenta desta republiqueta; em segundo lugar, uma vez presidente, sempre presidente - mesmo sendo ex - segundo os franceses, o que é lógico como título. Se juízes, médicos, dentistas e algumas pequenas autoridades se dizem doutores, por que alguém que alçou o mais alto cargo da nação deveria, ao sair, ser rebaixado?

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    1. Concordo totalmente com a sua observação, Tania!

      Eu costumo me referir a Dilma como PresidentA - como ela pediu e pelo mesmo motivo: destacar a condiçao feminina, inédita.

      Ela é presidenta ~ de direito ~ do Brasil ate 2018.

      Coloquei as aspas para destacar justamente a forma como <> pediu pra ser chamada numa oraçao em que me dirijo diretamente a ela. Ou seja, uso as aspas por usar o termo que <> usa.

      Mas tem razao. O uso das aspas da margem a essa interpretaçao a que vc faz alusao. De relativizaçao da condiçao de Dilma de Presidenta - seja atual ou ex.

      Vou substituir por << .... >>

      A minha ideia era justamente destacar que a chamo pela maneira pela qual ela pediu para ser chamada, passando a noçao de respeito/apreço de quem agora "puxa a sua orelha".

      Ou seja, papo reto de quem estava na msm trincheira.

      Mas vc ta certa. Mto mais claro seria ter usado << ... >> ou ~ ... ~

      Valeu pela observaçao!!

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