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Queria poder dizer que criei esta montagem, mas não... recebi de um seguidor no Facebook, como comentário a um artigo anterior. rs ...

9.11.16

Série: o STF do(s) Golpe(s). Vol. 2 – vamos ao cinema hoje?

O STF do(s) Golpe(s): Vol. 2 – vamos ao cinema hoje?
(série em 3 posts)
Por Romulus
– Quem poderia supor que o Pleno do STF era tão parecido com o clichê de uma escola secundária norte-americana, tantas vezes retratado no Cinema?
Aquele mesmo: o high school arquetípico retratado naqueles filmes interminavelmente reprisados na Sessão da Tarde.
– E, no final, uma pequena redenção. Porque sonhar – ainda – é permitido.
E que não se condene de todo esse “ópio do povo”, o sonho. É, muitas vezes, a anestesia (relativa) que nos permite aguentar as chicotadas que tomamos sem enlouquecer. Se não chegar a dopar, provocando a inação, que mal tem?

*
Convido os leitores para um pequeno passeio pela 7a arte, propondo a seguinte pergunta:
– Quem poderia supor que Pleno do STF era tão parecido com o clichê de uma escola secundária norte-americana, tantas vezes retratado no Cinema?
Sabe aquele high school arquetípico retratado em filme interminavelmente reprisado na Sessão da Tarde?
Pois é. Esse mesmo!
Aquele que, invariavelmente, tem:
(a) a "princesa" – ou ‘o’ príncipe? – demasiado preocupada(o) com o que os outros pensam de si e o que vão dizer;
(b) o bully: o brucutu mestre em intimidar os demais pela truculência. O mesmo que faz também “pegadinhas” (pranks) – contando com a ajuda imprescindível do “jornalzinho do colégio” – para constranger quem possa destoar.
Neste item também entram os bajuladores que compõem a sua malta.
Ora, bajuladores não são dignos sequer de item próprio, certo?
(c) a maioria silenciosa, que vê os abusos e ou ri ou, no máximo, vira o rosto. A mesma que, arregimentada pelo bully do item (b) virá a se tornar a sua manada opressiva; e
(d) o presidente do grêmio estudantil. Aquele que, politicamente, transita e faz a ponte entre todos esses arquétipos, com a devida – e necessária! – cara de paisagem diante da infâmia, do escabroso.
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Algumas ilustrações:
"Meninas malvadas": a rainha da colmeia e o seu séquito de operárias, que sonham secretamente ser rainhas ("Mean girls" - a "queen bee" e as "wannabe's"):
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bully, aquele que assedia os demais e toca o terror (com ou sem a ajuda do "Jornalzinho"):
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O (a) presidente do grêmio (ou candidato(a) a presidente):
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Reuniões improváveis dos arquétipos:
– Na sala de detenção depois da aula...
"O Clube dos Cinco": a princesa, o nerd, a excluída "esquisitona", o atleta popular e o criminoso.
– ... no coral da escola...
– ... e no pleno do Supremo Tribunal Federal.
*
Conseguiram encaixar os 11 Ministros nesses arquétipos?
Sim, são rasos como uma colher de sopa...
E não é incrível que, mesmo assim, descrevam razoavelmente bem a dinâmica dentro do colegiado que reúne (ou deveria reunir...) o pináculo da comunidade jurídica brasileira?
Pois é...
Diante das fotos anteriores, os leitores mais atentos já terão notado uma grave ausência entre os Ministros em relação aos personagens-tipo dos roteiros dos filmes de high school americanos.
Faltou um personagem central na trama:
– O nerd, o oprimido, o outcast, o excluído daquela proto-sociedade que, no final, no clímax do filme, vira a mesa e fala, desafiadoramente, todas a verdades diante de toda a escola, no corredor lotado. Verdades de que a maioria silenciosa sempre soube – assim como nós, espectadores de fora.
*
Invariavelmente o filme termina com os aplausos – aplausos redentores? – daquela maioria, antes em silêncio conivente, ao (ex) oprimido. Aplausos partilhados também pelos espectadores de fora, em suas cabeças.
*
E, no verso da moeda, tem-se o ostracismo dos (ex) opressores: a princesa vaidosa, o bully e os bajuladores, seus companheiros de malta, etc.
“Aplausos redentores”...
Mas redenção de quem?
Notem bem: redenção se há (?) é para aquela maioria, antes silenciosa. Maioria cuja tempestiva “virada de casaca” perdoaria (?) os seus “pecadilhos” do passado. Seja o riso quando fazia parte da manada opressora, seja o virar de rosto diante daquilo que (também) lhe agredia.
Para os vilões é certo que não haverá redenção!
Ora, são os vilões desse conto ~moral~, certo?
Se houver para eles também redenção, qual a ~moral~ dessa história?
Atenção ao gênero!
– Lembrem que se trata de filme de colégio, de high school, na esquematização simplificadora do Cinema americano.
E não épico bíblico, como “Rei dos reis” ou “A maior história de todos os tempos”...
Aqui vilão não tem perdão. Nem divino nem mundano, “por maior que seja a sua fé”. Fé, aliás, no que quer que seja...
*
E o oprimido?
Esse se redime no final?
Sim e não.
Há, é certo, uma realização na esfera social, um “troco”. Mas o oprimido não carecia de redenção na esfera ~moral~: já era o mocinho ab initio. O grilo falante pelo qual os espectadores tinham empatia, mesmo que – eles mesmos! – tenham sido opressores nas suas próprias vidas.
Incoerência?
Não necessariamente...
Ora, como poderia alguém se reconhecer no papel do ~vilão~?
>>A mente humana sempre encontra – sanidade impõe – as justificativas mais elásticas para desculpar moralmente as suas escolhas controvertidas. Ninguém há de se ver como o mau da história. Decerto, no máximo, como o esperto (defeito ou qualidade?) que toma partido das circunstâncias. E o faz apenas “como qualquer outro faria se estivesse no seu lugar”<<
Exemplo?
Creem que Eduardo Cunha se vê como o vilão dessa "Casa da Mãe Joana"?
Com "mãos ensaguentadas" na nossa adaptação tropical de "House of Cards"?
Ou será que Cunha se vê como o herói "de milhões"?
Pois eu aposto que ele se vê como algo no meio do caminho... alguém "safo", "plenamente justificado", que "fez apenas o que qualquer um faria", se gozasse das suas habilidades e lhe fossem dadas as oportunidades.
*
"Como qualquer outro faria”...
Esse ponto é importante!
Através dele está a chave para compreender que para esse personagem – e para esse espectador! – não há absolutos morais. Certo e errado. Tudo é relativo. Tudo pode ser explicado e justificado com a devida contextualização.
Como se, razoavelmente, não se pudesse exigir de alguém conduta adversa.
Essa formulação soará familiar para os leitores de formação jurídica.
Sim, o raciocínio se assemelha à exculpatória do estado de necessidade:
– Como exigir que alguém pudesse agir de forma diferente?
"Tudo é relativo", não?
Antes da queda:
Depois da queda:
*
Há um viés cognitivo (cognitive bias) pertinente nessa nossa discussão, o viés da autoconveniência (self-serving bias):
– Caso perguntados, quase todos declaram ter inteligência acima da média.
Isso é, evidentemente, estatisticamente impossível!
Da mesma forma, todos se declararão moralmente superiores à média.
Pergunte aos amigos das fotos aí de cima, apoiadores de Cunha, para confirmar se não se veem acima da média em valores morais...
E mais:
– Nenhum hesitará em se dizer moralmente muito superior ao próprio Eduardo Cunha.
*
Então, conforme o que vai acima, ficamos com:
– A mente humana sempre encontra – sanidade impõe – as justificativas mais elásticas para desculpar moralmente as suas escolhas controvertidas; e
– Tudo pode ser explicado e justificado com a devida 
contextualização.
Mas será mesmo tudo relativo?
Será que tudo é desculpado?
*
Pergunto:
Anos depois de ter visto os filmes de high school que listei aqui (bota anos nisso!)... de quem o leitor se lembra com carinho?
Ou mesmo sem carinho: de quem é que não esquecemos??
Do oprimido que se insurgiu e virou a mesa?
Ou dos seus algozes?
*
Pois é...
E, no entanto...
Bem, e no entanto entra ano, sai ano, entra “classe”, sai “classe”, entra STF, sai a metáfora cinematográfica – e o roteiro continua o mesmo.
Sem tirar nem pôr...
*
Suspiro longamente no final e me permito a lamentação:
– Ah, que falta fez o tal do oprimido e a sua virada de mesa redentora na nossa trama, não foi?
*
Mas voltemos aos filmes:
Quem lhes dá nome?
O oprimido ou o opressor?
Notem bem:
Nem o malandro, o que “mata no peito”, faltou no nosso filme, não é mesmo?

Ferris?
Prefiro mil vezes o da ficção!
Ele ao menos tem carisma e não prejudica ninguém (muito).
*
Pequena redenção:
 (muito merecida)
Bem, não tivemos na nossa trama aquele nerd oprimido que vira a mesa no corredor da escola, já sabemos...
Fez falta. Disso também já sabemos...
Mas sugiro irmos a um nível além na fantasia:
(apenas um?) 
– Se é para sonhar, que tal sonhar direito?
Para lavar a nossa alma diante de tudo o que vimos e vivemos em 2016 só mesmo um outro quilate de virada de mesa...
Um outro naipe de oprimido a ponto de explodir.
Um “mocinho” do tipo...
– ... Carrie, a estranha!!
Aquela que não se contentou até derrubar a escola no chão em chamas!
A escola não... a cidade toda!
*
Sequência:
Carrie em êxtase, em seu momento de glória.
Carrie, "a estranha", sacaneada:
Carrie muito fula da vida e a ponto de virar a mesa:

Esqueça a escola de Carrie e imagine a...
– ... Praça dos Três Poderes em sua composição atual!
Sonhar ainda é permitido, não?
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E que não se condene de todo esse “ópio do povo”, o sonho. É, muitas vezes, a anestesia (relativa) que nos permite aguentar as chicotadas que tomamos sem enlouquecer. Se não chegar a dopar, provocando a inação, que mal tem?
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P.S.: Outras leituras.
Essa, da leitora-xodó / guru:
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E essa de uma pupila dela:
Já eu acho muito difícil mudar os indivíduos. Ainda mais porque muitos desses valores estão profundamente assentados na sociedade brasileira, como "a lei de Gérson".
Concordo que isso deve ser trabalhado, mas mudar isso eh para gerações.
Por isso o meu foco - emergencial, digamos - eh na reforma das instituições de forma a colocar freios quando essa face dos indivíduos que ocupam as suas cabeças tentarem se mostrar. E também aumentar o grau de accountability.
Como?
– Tanto quanto possível decisões colegiadas;
– (mais) Freios e contrapesos;
– Controles externos em todos os poderes que não o tenham ainda (Judiciário e MP pelo menos);
– Mandatos fixos (STF), talvez 8 anos sem recondução (STF, PGR). Pensar mandatos para desembargadores também – inclusive os do quinto constitucional!
– Mais transparência (obrigatória e não como liberalidade);
– "Consenso reverso" (como na OMC) em hipóteses, p.e., como a expiração do prazo do pedido de vista dos Min. do STF.
Ou seja, só o consenso da totalidade dos Ministros pode estender o prazo do pedido de vista e impedir que o processo volte para a pauta do tribunal; e
– Recolocar o poder politico, oriundo da soberania popular (mesmo com todos os seus defeitos), no centro da institucionalidade.
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A seguir:
O STF do(s) Golpe(s): Vol. 3 – a democracia "tropeçou"... em Lewandowski?
– Como disse no Vol. 2 da série, há nos filmes de high school americanos o personagem do “presidente do grêmio estudantil. Aquele que, politicamente, transita e faz a ponte entre todos [os outros] arquétipos, com a devida – e necessária! – cara de paisagem diante da infâmia, do escabroso”.
– Por óbvio, trata-se do Presidente do STF – e também Presidente da Comissão do Impeachment! – Ricardo Lewandowski.
– Se, como aquele que “politicamente transita entre todos”, não desagrada ~de todo~ a nenhum dos lados, tampouco os agrada ~de todo~.
Tarefa impossível!
Acaba, portanto, apanhando de todos.
Sendo, contudo, ainda assim ~tolerado~ por todos.
– Mas qual o saldo de ter alguém “correto” presidindo a ~infâmia~?
É pior?
Ou menos ruim?
Será que o “tropeço da democracia” foi em...
– ... Lewandowski?!
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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como "uma esquerdista que sabe fazer conta". Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

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