Post "12 milhões de desempregados": o comentário da guru do blog, "MARIA"
Este é um artigo interessante publicado pelo nosso
amigo Romulus em seu novo blog, não porque trate da triste realidade dos
índices de desemprego que não param de crescer em meio à crise da economia, mas
porque procura entender as razões desse desastre. E entendê-las não em termos
dos elaborados cálculos econômicos das razões - e mentiras - de Meireles e do
governo golpista de Michel Temer, mas dos dogmas da teoria econômica que as
sustentam. Um artigo de reflexão, portanto, mais que de comentário e análise do
noticiário político.
De fato, no noticiário, desde a farsa do processo de
impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o novo governo ilegítimo prometia
reverter a crise econômica - naturalmente provocada pela "gastança"
irresponsável das políticas do PT - e trazer de volta os investidores para
socorrer nossa economia combalida, desde que restaurada a sua confiança, após a
correção do desequilíbrio fiscal. Desta ficção faz parte a famigerada PEC que
agora tramita no Senado com o número 55. E, no entanto, como disse Lula
recentemente, há 5 meses, desde que o Temerário usurpou o poder, "só se
ouve falar em crise". Por quê?
Não é apenas porque o modelo neoliberal que se tenta
implantar a qualquer custo no país acabe por favorecer os interesses do capital
financeiro, dos banqueiros e rentistas, justamente os que desde o início deram
maior apoio ao golpe, passando a ocupar cargos-chave no novo governo. Há uma
razão de fundo para isso, responsável pelo fato de que não sejam ouvidas nem as
tímidas recomendações recentes do FMI sobre a necessidade de investimentos
estatais para repor nos trilhos a economia mundial, e não as "medidas
amargas" da contenção dos gastos, que só aprofundam a recessão, agravando
ainda mais a crise.
A razão de fundo é a maneira pela qual a teoria
econômica pensa seu próprio objeto, seus métodos de análise e a aplicação das
políticas que daí decorrem. Esta a reflexão a que se dedica o artigo. Trata-se
de uma crítica à concepção de racionalidade que sustenta a ficção do "homo economicus" da teoria
clássica, compartilhando a fé no poder ilimitado da razão que o positivismo do
século XIX transformou em base do pensamento científico moderno. No entanto, no
mundo contemporâneo, onde "tudo o que é sólido se desmancha no ar", a
chamada "pós-modernidade" corroeu de modo irreversível essa crença,
substituindo a razão triunfante pela sua crítica, que leva à adoção de novos
paradigmas, baseados na confiança em uma "razoabilidade" nas decisões
econômicas, capaz de levar em conta a rapidez das mudanças na sociedades
contemporâneas.
Com sua dupla formação de economista [Nota de Romulus: eu comecei mas não terminei Economia!] e jurista,
Romulus mostra uma crítica análoga que deve ser feita ao Direito, para
completar o quadro analítico que nos permite compreender por que nem da atuação
do STF se deve esperar um freio ao descalabro responsável não só pela
existência de 12 milhões de desempregados, como também pelo rumo certo do
abismo, em direção ao qual está sendo jogado o país.
Para além do interesse político imediato dessa
análise, creio que ela nos oferece um material interessante para refletir sobre
outra questão de fundo que vem me inquietando há algum tempo, o individualismo
da sociedade do espetáculo, responsável por outros tantos desastres políticos,
como os que puderam ser vistos nas últimas eleições, aqui e no mundo. Minha
inquietação envolve uma desconfiança geral sobre os novos conceitos da chamada
pós-modernidade, que têm no seu centro uma nova visão do lugar do indivíduo na
vida social, precisamente aquela que corrói no plano dos valores e das condutas
noções como solidariedade, organização coletiva de interesses em sindicatos e
partidos etc.
É inevitável que, dentro desses novos marcos, a questão
das subjetividades venha a ocupar um lugar privilegiado, parecendo autorizar a
expressão irrestrita de suas demandas, inclusive aquelas provenientes do
inconsciente, que agora se trata também de explorar.
E não deixa de ser uma
ironia que, procurando criticar o individualismo metodológico do pensamento
moderno, que <<Marx>> e <<Freud>> tanto trabalho tiveram para desconstruir, mostrando
as estruturas inconscientes que sustentam a vida das sociedades e dos indivíduos...
<<a pós modernidade volte a um individualismo ainda mais radical>>
... com os
evidentes prejuízos políticos que vemos mundo afora, como comprova a ascensão
da extrema direita, que deveria ser hoje nossa máxima preocupação.
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