Destaque:

Estado brasileiro na encruzilhada. Já sabemos o que a Globo quer... e você?

Queria poder dizer que criei esta montagem, mas não... recebi de um seguidor no Facebook, como comentário a um artigo anterior. rs ...

9.6.17

Inglaterra: "derrota vitoriosa" da direita e tragédia (democrática?) do voto distrital

Publicado 8/6/2017 - 11:49
Atualizado 9/6/2017 - 12:10
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Inglaterra: "derrota vitoriosa" da direita e tragédia (democrática?) do voto distrital


Por Romulus (& amigos)

Diante do resultado da votação de ontem no Reino Unido, a constatação - matemática! - do desastre ~democrático~ que seria o voto distrital no Brasil.

Alerta!

Alô, deputados! Alô, senadores!

- Olho nessa tal "Reforma Política"!

Mas, primeiro, a crise de identidade da esquerda.

Lá e cá!


*

Gosto de ler os textos do Senador Lindbergh Farias.

Tanto gosto que costumo, inclusive, comentá-los na sequência:




Noto, contudo, que têm de ser lidos cum grano salis.

Ora, é evidente: O Senador, mais do que um analista, é um ~ator~ político. De se esperar, portanto, que as "edições" simplificadoras - necessárias à escrita sintética de qualquer artigo! - sejam feitas de forma a... hmmm... "prestigiar" a agenda que o autor defende.

Em novo artigo, a propósito da eleição no Reino Unido (reproduzido no final do post), observa Lindbergh:

Há um traço de união nos desempenhos de Sanders, Mélenchon - bem como no desempenho que se anuncia de Corbyn. Os três perceberam a novidade - evidente também no Brasil a partir das mobilizações de junho de 2013 - que está ocorrendo no mundo um deslizamento para os polos do espectro político.

Ora, ninguém em sã consciência nega isso. Venho, inclusive, eu mesmo batendo nessa tecla muito antes de Melénchon’s e Corbyn’s “surgirem” eleitoralmente:







*

“Esquerda da esquerda” – o copo meio vazio

Mas...

Há algo mais em comum entre Sanders e Melénchon, fora o radicalismo de esquerda:

- Nenhum deles chegou, sequer!, à disputa principal!

Na França – repare que “absurdo”, Senador! – a polarização entre os extremos, com o tal do “eleitorado radicalizado”, resultou na abertura de uma ~avenida~ para o candidato de...

- ... CENTRO!

Que acabou eleito!





Também tenho muitas críticas ao “neoliberalismo progressista” da Nancy Fraser, bem como ao nome que se dava a ele “antigamente”:

- A “Terceira Via” do Tony Blair.

O Senador verá isso claramente se me brindar, mais uma vez, com a leitura de um artigo de minha autoria:




Mas...

- Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Não é porque a “Terceira Via” está em vias de desaparecimento que a “esquerda integrista” passou a se viabilizar em eleição ~majoritária~ em nível nacional, não é mesmo?

E isso nem no Brasil, nem em nenhum outro lugar do mundo ocidental. Pelo menos até o momento.

Pesa-me muito a deselegância ter de observar, por oportuno, que o “integrismo” do Senador não cativou sequer os seus companheiros de Partido, que preferiram eleger a “moderada” Gleisi Hofmann Presidenta do PT no último fim de semana.

Qual tem sido a votação, em eleição majoritária!, de PSOL, PCO, (o seu ex) PSTU, PCB?

Vamos combinar: no “nosso” Rio de Janeiro, em 2016 não foi o Marcello Crivella (IURD! Oh!) quem ganhou...

Foi o Marcelo Freixo quem perdeu!

O que o Senador descreve – o potencial “desaparecimento” da esquerda moderada em termos eleitorais – é sim verdade no nosso Rio de Janeiro. O PT, que nunca foi lá essas coisas no Estado, é hoje quase uma “micro-legenda histórica” (!)

A esquerda hoje, no Rio, é o... PSOL!

E qual o poder de fogo dela em majoritária, Senador?

Não é a votação de segundo turno de Marcelo Freixo no eleição de 2016, “bombada” pela adesão em massa do voto da rica Zona Sul – conservadora!, devida única e exclusivamente à rejeição ao outro candidato, o... “sobrinho do Bispo Macedo”.

Hoje, o poder de fogo da esquerda no Rio de Janeiro em majoritária – lamento-o tanto quanto o senhor, Senador! – é a soma dos votos de Freixo, Jandira Feghali e Alessandro Molon no ~primeiro~ turno:

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Ou seja: pouco mais de 20% do eleitorado!

E tem mais:

- Se o campo conservador não tivesse se dividido em 5 (!) candidaturas competitivas, o segundo turno seria decidido entre 2 candidatos de direita!

*

Saudades dos anos 80?

Sim, todos sentimos saudade da “Brizolândia” - como chamavam então a Cinelância, no Centro do Rio - lotada para ouvir o “caudilho”...

Da liderança que representava Brizola nas áreas carentes do Estado: nos “Morros” das Zonas Sul e Norte, na Zona Oeste e na Baixada Fluminense.

Liderança, aliás, ~testemunhada~ pelo Presidente Lula, conforme o relato, no min. 7:12, deste pequeno extrato do documentário “Brizola - Tempos de Luta”:


- Nestes 12 minutos, apenas: depoimentos dos Presidentes Lula, Dilma e FHC.

 


O documentário completo (1:33h) aqui:

  


E aqui outro depoimento de Lula. Este sobre o dia em que Brizola o “apresentou” a Getúlio Vargas, em São Borja-RS:

 


*

“Esquerda da esquerda” – o copo “meio cheio” (entre aspas mesmo)

Bem... vejamos pelo lado positivo, não é mesmo?

A falta de viabilidade eleitoral em eleição ~majoritária~ poupa a “esquerda integrista” do ~vexame~ de ter de admitir que ~não~ conseguiu - desde a queda do Muro de Berlim! - desenvolver um modelo político-econômico alternativo ao “neoliberalismo” executado pela velha democracia liberal:

- Seja esse na sua modalidade “linha dura”, executado pela direita “descomplexada” - aquela que “ousa sim dizer o próprio nome”;

- Seja na modalidade “envergonhada”, “contrabandeada”, de maneira dissimulada, pela socialdemocracia “reformista” pós-anos 80 – com o marco histórico da chegada de Mitterrand à Presidência da França em 81, frustrando as “esperanças e sonhos” dos “integristas” de uma “guinada radical” à esquerda na Europa Ocidental.

(Rá... rá... rááá...)

Como bem resumido pela metáfora de outro que fez o mesmo, Felipe González da Espanha, Mitterrand governou “tocando o violino”: pegou-o (e segurou-o!) com a ~esquerda~, mas o tocou com a...

- ... direita!

Como tenho discutido em artigos no blog, a reação - com viabilidade eleitoral em majoritária! - ao neoliberalismo ~globalizante~, seja ele tocado pela esquerda envergonhada ou pela direita descomplexada, não tem sido a “esquerda integrista”.

(aliás, qual o programa econômico dela, por favor, Senador? Estatizar o sistema financeiro? Contra o latifúndio, fazendas coletivas à la URSS ou “ejidosà mexicana? Dá para abrir mão, no curto prazo, das divisas que gera o agronegócio (sim: predatório e concentrador de renda)? Vamos nacionalizar fábricas que fecham e demitem? Fechar a economia para substituir importações? Olha... quero ver convencer a classe média (sim, sempre ela...) que “nada de iphone ou ipad” mais... boa sorte!)

Na verdade, a reação ao neoliberalismo globalizante financista tem sido, isso sim, o “soberanismo”. Que vai de um Putin, pela direita, a um Chávez, pela esquerda.

Ou, na França da última eleição, o traço de união entre Marine Le Pen - extrema-direita - e o “seu” Jean-Luc Melénchon, Senador, da “esquerda de verdade”:




E o discurso “soberanista”, convenhamos, eleitoralmente casa muito melhor com a direita - a extrema! - do que com a esquerda!

*

Rapidamente, sobre o "sucesso" de Corbyn:

- Está surfando na ressaca do referendo do Brexit;

- Ademais, a oposição (mais) viável eleitoralmente sempre parte do piso da rejeição ao governo de turno;

- Para fechar, Corbyn depara-se com uma adversária fraca, com uma campanha errática, e que chegou a recusar participação em debates.

Isso porque até de jornalistas ela apanha em entrevistas:






- Quem tira votos de Theresa May é ela mesma!


*

Algumas reações ao artigo sobre o “desabafo” de Fernando Haddad que tem TUDO a ver

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Eduardo Outro: Minha primeira opinião: achei fantástica a discussão do Romulus et caterva, caterva do bem, lúcida, válida e inserida no contexto (só entende esses últimos termos, quem tem mais, muuuito mais de 50, e lia "O Pasquim").

Só que essa primeira opinião é uma alisada para a segunda, não sei se lúcida ou válida, mas inserida no contexto.

Segunda opinião, que engloba diversas outras:
Considerei estar presenciando uma caterva (não no sentido pejorativo, reitero) de Feolas discutindo, em alto nível, técnicas e táticas para o NOSSO time.

Alguns ainda perceberam que no campo há OUTRO time mas me pareceu que ninguém prestou muita atenção no juiz, bandeirinhas e principalmente nas arquibancadas, vips ou populares, muito mais importantes que o próprio time adversário.

Para se chegar ao gol há de, não como regra, mas como instrumento de defesa, chutar a parte central entre o joelho e o umbigo do adversário, pressionar com qualquer meio os juizes e bandeirinhas para que não favoreçam o outro time e encantar as arquibancadas para que estejam do nosso lado, como no clichê de decimo segundo jogador.

E como fazer isso?

No ponto em que chegamos não há outro caminho que não seja a “savana”. Lambamos satisfeitos os lábios como leões, se formos leões, ou tentemos fugir como gazelas, se as formos.

O nosso verdadeiro problema é de identificação.

Quem somos?

O que somos?


Romulus:

“Lambamos satisfeitos os lábios como leões, se formos leões, ou tentemos fugir como gazelas, se as formos”

E também na dúvida Hamletiana:

“O nosso verdadeiro problema é de identificação. Quem somos? O que somos?”

Quando vejo Boulos, secundado por distintos professores de Ciência Política, dizer que "Lula ~tem~ que fazer muito mais se voltar em 2014!", eu, humildemente, pergunto:

- "Lula ~tem~"?

- "Tem" mesmo?

Confesso que fico na dúvida se esse tipo de colocação é ~bravata~ da “esquerda insubmissa” ou...

- ... falta de noção!

Pois eu, no lugar de Lula, ia curtir as últimas décadas (chegam ao plural?) de vida com os netos, sabe...

Se não o prenderem (arbitrariamente), Lula estará muito bem, obrigado.

E "nós", a(s) esquerda(s)??

(sempre no plural...)

A “de verdade” e a “de mentira”?

Elas ~sobrevivem~ no Brasil de ~hoje~ sem Lula?

Nunca é demais repetir Ortega y Gasset:

"Entre o ser e o crer que já se é vai a distância entre o sublime e o ridículo".

*

A esquerda-Gonzaguinha:

- “Aquela que ~acredita~ na ~pureza~ da resposta das ~crianças~”

 


Marcelo Xavier: (...) entendo que precisamos parar de tentar atribuir culpas e responsabilidades pessoais em eventos extremamente complexos cuja dinâmica não pode ser explicada com base em atitudes individuais.

Além disso, sob determinadas circunstâncias, os resultados são inescapáveis, independentemente do quanto se pensa agir para evitá-los. "Muitas vezes encontramos nosso destino no caminho que trilhamos para evitá-lo", como diria La Fontaine.

Finalmente, até porque nesse nível ninguém é ingênuo ou burro, muito menos o Lula, Dilma foi escolhida justamente pelas suas características pessoais, não apesar delas. Ela desempenhou a perfeição o papel que a História lhe reservou.

Aliás, se alguém realmente acreditasse que com alguém como o Lula (gênio político) a história seria diferente, pergunto porque não o próprio Lula em 2014? O que poderia ter sido feito de forma diferente? Compor com o Cunha e ser tragada pela farsa jato, dessa vez com provas? Mudar a política econômica fazendo concessões à direita, aplicando na íntegra o programa derrotado nas urnas?

Ah, mas ela reconduziu o Janó. Como não indicar o Janó, depois que o Lula inaugurou a folia de indicar o mais votado?

Mas ela deixou o Daielo. Como se tivesse sido possível trocá-lo depois que a Farsa a Jato virou um Tsunami.

E as indicações ao STF? Como desconfiar de um Fachin, o favorito do MST?

Ah, e a lei de meios? Com esse congresso? Sem pressão popular? Pois é...

Vejam bem, é o mesmo argumento da esquerda sem compromisso com o povo (PSOL e congêneres) – “dava pra ter feito diferente, dava pra fazer mais, dava pra ter sido mais esquerda”, etc.

A mulher é ela e suas circunstâncias.

Discordo, portanto, que a Dilma tenha sido um erro.

Ao contrário, foi a melhor escolha.

Quem senão ela teria tido a altivez, a tenacidade, a energia, a graça, etc.?

A impressão que dá, é que Lula a escolheu, assim como Deus escolheu Jesus.

Mandou ela pro sacrifício porque sabia que ela aguentaria o tranco.

Gênio, intuição, um misto de ambos?

Romulus: Creia-me: ninguém ficou mais feliz do que eu com a eleição de Dilma em 2010. Como disse, ~eu~ sou uma "Dilma"! Portanto, eu ~também~ acreditei que chegara, finalmente!, a hora de o Brasil ter uma "Presidenta assim".

Mas...

Aí voltou o bendito do Ortega y Gasset:

"entre o ser e o crer que já se é vai a distância entre o sublime e o ridículo".

E eu, do meu ridículo, tive de cair na real.

Você levanta um ponto interessante, com o qual concordo de cara:

- Se era para ser golpeada - e resistir bravamente, com toda a dignidade do mundo! - então não havia mesmo, não há e não haverá!, pessoa melhor que a nossa... "Vanda" da Guerrilha.

Mas você, com isso, mudou a premissa - o que não pode ser tampouco descartado.

*

Interlúdio - panoramas:

1) Cristina Kirchner - a "habilidosa política e oradora carismática" - não sucumbiu às inúmeras tentativas de inviabilização de seu governo.

Mas...

Não fez o seu sucessor (por pouco, mas não fez).

2) Dilma "era para ter perdido" a eleição de 2014, quando 75% dos eleitores queriam, com ou sem razão, "mudança".

Jogaram, a favor de Dilma, tanto a "Fortuna" quanto a "virtù" de Maquiavel:

- De um lado, a oposição escolheu um PÉSSIMO desafiante: seria ele um narcotraficante toxicômano que "mata antes que delatem"??

- Do outro, ela, para o bem e para o mal, "segurou" a recessão até ali, "arrancando com o carro, mesmo sabendo que o freio de mão estava puxado".

Em virtude disso, "tinha o que mostrar" - i.e., "para trás", se não "para frente" (Levy!).

Se tinha "o que mostrar", pôde ainda contar com o melhor "mostrador".

Nada menos que o Goebbels contemporâneo: um tal de... João Santana, conhece??

Resultado:

"Era para ter perdido" - como na Argentina! - mas Dilma... ganhou!

E, porque ganhou, "teve que ter" golpe.

*

E aí voltamos ao enigma do "gênio político" Lula, o meu übermensch nietzschiano do coração.

Por que ~ele~ não concorreu em 2014??

- Porque a Dilma - aquela que é leal mas não subserviente - não deu espaço?

- Porque ele sabia que o governo "tinha que perder" aquela eleição e não quis arriscar o dele?

- Porque ele sabia que, em ganhando, o governo seria inviabilizado/golpeado e - novamente - não quis arriscar o dele?

- Porque ele sabia que, em ganhando, o governo seria inviabilizado/golpeado e - nova rationale! - ele quis equipar o governo com a melhor "mártir" possível, para tentar, num segundo momento, fazer do limão uma limonada, catar os cacos e - aí já ele ~mesmo~, já que essa tarefa requer um arque-articulador - virar a mesa no golpe? Sucedendo o seu - previsível - fracasso retumbante e começando a reconstrução?

Note: na maravilhosa complexidade humana, uma explicação ~não~ exclui a outra!!

Mais palpites??


Marcelo Xavier: Bem isso! Tudo isso e mais um pouco. Hehehe.

Só não acho que podemos ficar professando a genialidade política do Lula e ao mesmo tempo achar que ele não fez o cálculo político de indicar uma pessoa como a Dilma em 2010/2014.

Aliás, mais uma hipótese:

- Quem se não Dilma teria recusado um acordo lá atrás pra entregar a cabeça do Lula e as reformas numa bandeja, com a promessa de concluir o mandato e estar blindado/a contra a Farsa a Jato?

*

Outro lado: uma voz do “Mercado”

(sempre sensata, registre-se em sua “defesa” rs)

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Aurélio Junior50: Sem escrever muito.

Haddad com este "desabafo", estas desculpas, este manifesto de "coitadinho" altamente intelectualizado, até meio bobinho, mostra que o "soft petismo" ainda existe. Muito mais palatável a "quem manda", do que um Ciro Gomes ou mesmo um histriônico do Requião.

Haddad (branco, "dotor" uspiano, de "estirpe" e família) é a cara de São Paulo. Até pode ser um "petista" modernoso, com um discurso socialdemocrata quase Macroniano. Até "bate" em Dilminha, mas depois afaga. Contesta a FHC mas o respeita - "noblesse oblige". Concomitantemente, incensa a Lula - afinal faz parte do ideário petista bater cabeça ao "icone", ou pega mal com os "companheiros".

Não foi só um desabafo, muito menos um mimimi "fernandistico", mas sim a procura de um distanciamento. O “diferenciar-se”. Assumir “erros” cometidos - mesmo que não os tenham sido - pega bem com os do "muro" e com os que "mandam".

E Haddad é inteligente: sabe que se diferenciar, hoje, o torna uma opção.

O Mercado, o pessoal do capital (Haddad é oriundo desse meio), os acadêmicos (outra facção em que Haddad é pertinente), com certeza amaram este libelo "haddadiano".

*

Jeremy Corbyn: a esquerda cresce quando defende o seu programa

Por Lindbergh Farias

TER, 06/06/2017 - 07:30

Osvaldo Aranha, político gaúcho e chanceler brasileiro, costumava dizer ironicamente que as ideias no Brasil costumam demorar a passar na alfândega. A esquerda brasileira precisa sintonizar as ondas do que acontece no mundo.

As experiências eleitorais recentes nos Estados Unidos (Bernie Sanders), França (Jean-Luc Mélenchon), e no Reino Unido (Jeremy Corbyn), concentram a seguinte lição: em tempos atuais, a esquerda, quando assume um programa de crítica radical do neoliberalismo e do capitalismo financeiro, polariza, aglutina e cresce; quando, ao contrário, assume um discurso envergonhado e conciliador diante do mercado e das elites, definha organicamente, deixa de polarizar, aglutinar e crescer.

Além disso, ao não polarizar, sucede a tragédia das tragédias: a ausência de uma esquerda de verdade cede espaços ao crescimento da direta neofascista. Não se trata de apenas ganhar eleições, embora isto seja fundamental, mas de a esquerda sair fortalecida e largo horizonte de futuro.

Na semana passada, Guilherme Boulos declarou em entrevista à BBC que "Lula não unificará esquerda se propuser 'mais do mesmo’”. A provocação de Boulos é interessante, mas a questão de fazer “mais do mesmo”, na realidade, nem se põe. O fluxo da temporalidade é irrevogável. Condições objetivas de conciliação, como as da primeira eleição de Lula em 2002 não se repetem mais, a não ser como miragem saudosista.

As próximas eleições presidenciais brasileiras, em razão de tudo que aconteceu de 2014 para cá - o não reconhecimento do resultado eleitoral pela oposição, o golpe de Estado, as reformas neoliberais radicais, etc. -, sejam elas antecipadas ou em 2018, serão as mais duras de nossa história. O Brasil se encontra em uma encruzilhada histórica: a grande questão para a esquerda, nos próximos embates, não é apenas institucionalmente acumular forças, elegendo mais e melhores bancadas parlamentares. É preciso acumular forças, mas é urgente haver um salto de qualidade na sociedade.

Tratemos de abordar o caso da eleição desta quinta-feira (08/06) no Reino Unido. Desde que se antecipou as eleições parlamentares no Reino Unido, era dado como certo uma vitória folgada da primeira ministra conservadora, Teresa May. A antecipação foi considerada por muitos uma “jogada de mestre” da primeira ministra.

A ideia-força do marketing da campanha conservadora era persuadir o eleitor que Teresa May tinha uma vistosa pose de “estadista””, sendo “a mais preparada” para conduzir o processo do Brexit. O discurso foi bem sucedido pela direita. Teresa May engoliu o UKIP (partido da direita radical) com promessas chauvinistas de medidas duras de biopoder, visando controlar o fluxo de imigrantes à ilha.

Entretanto, para surpresa de muitos, a eleição emparelhou pela esquerda. Eleições não se ganham de vésperas, principalmente no Reino Unido. Basta recordar que nas eleições de maio de 1945, que se deram no exato momento de comemoração de vitória na guerra, um dos estadistas indiscutíveis da vitória, o mito Winston Churchill, amargou a derrota para o trabalhista Clement Attlee, que governou até 1950.

A vitória de Attlee se explica pelo fato, demonstrado por Eric Hobsbawm em a “Era dos Extremos”, que o soldado inglês se sacrificou nos campos de batalha persuadido pelas promessas que o mundo do pós-guerra seria mais justo. Não é à toa que o documento fundamental de montagem do welfare state britânico, o Relatório Beveridge, foi aprovado no parlamento em 1942, um ano após os bombardeios alemães sobre Londres. Para dar sangue, suor e lágrimas, o contrato social precisaria mudar mais na frente.    

Antes dado como candidato fora do páreo, o candidato trabalhista, Jeremy Corbyn, começou a crescer vertiginosamente, fortemente apoiado nos eleitores mais jovens. Corbyn cresceu porque conseguiu girar o eixo do debate de campanha. Em vez de a ordem do dia ser a melhor administração do fato consumado do Brexit, o assunto de campanha passou a ser o welfare state, especialmente o serviço universal de saúde (National Health Service - NHS) e a desprivatização das universidades Britânicas. Além disso, Corbyn não faz de rogado em se afirmar claramente socialista, bem como é corajoso ao declarar que os ataques terroristas em solo britânico são uma esp&eacu te;cie de efeito bumerangue das guerras de conquistas promovidas pelo Império Britânico no mundo árabe e islâmico. O espectro da cobiça de dominação imperialista inglesa continua a cobrar um preço.   

O welfare state tem raízes profundas na sociedade britânica. Não acaba de uma canetada, como escreve Perry Anderson na conferência “Balanço do Neoliberalismo[1]”. Tanto que sobreviveu até mesmo à assunção destrutiva de uma Margaret Thatcher (1979), uma personalidade portadora de uma convicção de tipo religioso na autorregulação dos mercados, até então uma ideologia exótica mesmo entre os conservadores.

O giro de Corbyn se assemelha à capacidade de impor um discurso contra a corrente que tiveram recentemente Bernie Sanders nas eleições americanas e Jean-Luc Mélenchon nas eleições francesas. Sem desprezar as peculiaridades nacionais da política e a história particular de cada eleição, mais que diante de fatos puramente locais, começa a emergir uma realidade política mais global.

Vários analistas interpretam que, caso o adversário de Trump fosse Sanders, em vez da desgastada Hillary Clinton, talvez o resultado das eleições americanas tivesse sido diferente. Hillary representava o “neoliberalismo progressista” - conforme a expressão provocadora de Nancy Fraser em artigo[2] magnífico - onde discutiu o projeto de aliança entre os yuppies cosmopolitas do Vale do Silício e Wall Street e as justas aspirações de identidade. De outro lado estava o velho senador progressista por Vermont, Sanders, que propôs um programa de valorização das questões identitárias, que giravam em torno de uma aliança com o prec ariado, sejam os jovens escolarizados e desempregados ou a classe operária tradicional.

Igualmente, o programa de Mélenchon, e sua coligação “França Insubmissa” percebeu o desgaste do revezamento leopardiano de comadres - “mudar para que tudo fique como está” - entre republicanos e socialistas para ver quem melhor conduz a racionalidade do capitalismo financeiro. Assim, resgatou nas raízes do radicalismo histórico francês, não só de esquerda socialista, elementos de afirmação de um programa radical e sem subterfúgios. Não foi ao segundo turno, mas se posicionou firmemente para novos embates. Enquanto isso, o tradicional partido socialista se esvaiu complemente.

Há um traço de união nos desempenhos de Sanders, Mélenchon - bem como no desempenho que se anuncia de Corbyn. Os três perceberam a novidade - evidente também no Brasil a partir das mobilizações de junho de 2013 - que está ocorrendo no mundo um deslizamento para os pólos do espectro político.




*

Atualização 9/6: a "maravilha" que é o voto distrital para a ~demo~cracia - #SQN!

Alô, deputado Vicente Cândido (do PT!), relator da Reforma Política, que anda falando em "voto distrital misto":






Notem bem:

- No total de votos, os Conservadores tiveram apenas ~2.4~ pontos percentuais a mais que os Trabalhistas - 42.43% vs. 40.03%.

- E, no entanto, os Conservadores têm ~8.6~ pontos percentuais a mais de cadeiras (!): nada menos que ~56~ (!) deputados! Quase 10% da Casa (650 deputados no total).

Portanto, basta os Conservadores convencerem os 10 (!) deputados "Unionistas" da Irlanda do Norte - protestantes favoráveis à ~união~ com Londres e ~não~ com a República da Irlanda! - a formar governo (o que não é nada difícil, dada a sua afinidade) que se tem maioria no Parlamento (!)

Ora, e por que os Trabalhistas não se insurgem contra esse sistema??

Porque, embora ele beneficie os Conservadores - com o desenho arbitrário e cal-cu-la-dís-si-mo dos distritos eleitorais (*), ele prejudica ~mais~ ainda os partidos menores.

Dessa forma, o "clube dos 2 grandes" se acerta para manter o bipartidarismo de ~fato~, mesmo que um ganhe mais do que o outro nesse jogo.

Distorções:

- Os Liberais Democratas tiveram ~7.32%~ dos votos totais, mas vão terminar com ~1.8%~ (!) dos Deputados eleitos (12 de 650).

- Já os Nacionalistas Escoceses, com um "Distritão" bem definido (*) - a Escócia!, tiveram ~3.04%~ dos votos totais, mas vão terminar com ~5.4%~ (!!) dos Deputados eleitos (35 de 650).

((*) imaginem, no caso brasileiro, um... "Partido do Sul"!)

Sabem como isso se explica?

Simples: com o desenho "safado" de cada um dos distritos eleitorais, de forma a aumentar ou diluir a representatividade dos apoiadores e dos opositores, respectivamente, do grupo político no poder.


Da Wikipedia (em inglês):

“Gerrymandering”

In the process of setting electoral districts, gerrymandering is a practice intended to establish a political advantage for a particular party or group by manipulating district boundaries. The resulting district is known as a gerrymander (/ˈdʒɛriˌmændər/); however, that word can also refer to the process. The term gerrymandering has negative connotations. Two principal tactics are used in gerrymandering: "cracking" (i.e. diluting the voting power of the opposing party's supporters across many districts) and "packing" (concentrating the opposing party's voting power in one district to reduce their voting power in other districts).

In addition to its use achieving desired electoral results for a particular party, gerrymandering may be used to help or hinder a particular demographic, such as a political, ethnic, racial, linguistic, religious, or class group, such as in U.S. federal voting district boundaries that produce a majority of constituents representative of African-American or other racial minorities, known as "majority-minority districts". Gerrymandering can also be used to protect incumbents (!).


O John Oliver explica isso tudo muito melhor:



Ciro: Não se deve confundir de forma alguma a particularidade da Inglaterra com um movimento global, Senador Lindbergh!

- Na Inglaterra a "Marine Le Pen" ganhou (!)

O nacionalismo triunfou sobre o globalismo no momento em que passou o Brexit.

As duas alas centrais majoritárias dos grandes partidos saíram derrotadas do referendo e fez-se a escolha pela radicalização - tanto a direita com May quanto a esquerda com Corbyn (radical no sentido inglês, claro).

O desgaste imediato de um governo desastroso da direita "radical" aliada à pior campanha de todos os tempos (com níveis de sincericídio que empalideceriam qualquer Marina Silva) levou a uma APARENTE “vitória” da esquerda (no sentido de negar a maioria absoluta à direita), aliado também ao não surgimento de nenhuma "terceira via" e talvez a maior operação de voto tático de todos os tempos (!) (ver abaixo (*)) - que num sistema parlamentarista de voto distrital é o único voto realmente útil: o ressurgimento do bi-partidarismo natural que o distrital acaba acarretando.

Claro que "e se..." não conta, mas imagino que se o candidato trabalhista fosse mais “palatável" não teria apenas negado a vitória ao adversário, mas teria conseguido ~vencer~.


(*) Campanha pelo voto tático na internet:

This site shows which way you should vote on 8th June to prevent the Tories from getting into power again
TACTICAL2017.COM


Exemplo da movimentação de campanha no Reino Unido:

- O lema ~não~ era “eleger Corbyn” - o lema era “PARAR OS TORIES” (!)

Para isso, basta colocar o CEP e descobrir em quem você, eleitor, deve votar:

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Romulus: extrapolação muito fácil:

Além de Gerrymandering a dar com pau...

- Quem mais acha que, com voto distrital, as eleições no Brasil vão se resumir a “coloque o seu CEP aqui” para, alternativamente:


(a) “barrar esses Petralhas ladrões”
#CadeiaNeles

Ou...

(b) “barrar esses Tucanalhas privateiros”
#CadeiaNeles 

🙋 🙋 🙋

 "Minorias" e pautas/categorias específicas (ecologia/ educação/ saúde/ Cultura/ movimento negro/ LGBT/ mulheres, etc.) elegendo deputado?

- Nunca mais!

Alô, Deputado Vicente Cândido!!


- Vamos chamar uns cientistas políticos para bater um papinho??

*


Maria: Gerrymandering, OK, concentrar ou diluir votos across districts. Mas como é feita a ~distribuição~ dos candidatos nos distritos para permitir isso? Onde, como ou por quem é decidida essa distribuição?

Romulus: Cada partido indica o seu candidato por distrito.

Maria: Ok, quem indica os candidatos por distrito é o partido. Mas quantos? Um só ou vários, dependendo do tamanho do distrito? Estou tentando entender concretamente como se concentra ou dilui voto, além do desenho do distrito.

Romulus: O sistema distrital - por definição - torna a eleição de deputado em ~majoritária~. Cada distrito elege ~1~, e apenas 1, deputado.

Logicamente, cada partido só indica 1 candidato por distrito.

E o deputado se torna o “representante da ~Paróquia~” em Brasília.

Por exemplo, o nosso querido Paulo Pimenta, o deputado mais votado do Rio Grande do Sul, só poderia receber agora votos no ~seu distrito~ - Santa Maria. Ninguém de Porto Alegre poderia votar mais nele.

Outros exemplos:

(Fala agora o futuro Presidente da Câmara dos Deputados, em 2019)

Concedo a palavra ao nobre deputado (vitalício!) do 57o Distrito ($$$)Jardins, Pinheiros, Moema, Campo Belo, Itaim/São Paulo-SP – o Exmo. Sr. ...

- Fernando Henrique Cardoso (!)

(alguém inelegível em majoritária, mas que é colocado, por isso mesmo, no que se chama de “distrito seguro”, onde é ~impossível~ elegerem o candidato do PT - qualquer que seja o candidato do PSDB! E qualquer que seja o candidato do PT também: podem ser os “finos” Suplicy ou Haddad, que vão perder do mesmo jeito!)

Na sequência a palavra será concedida ao nobre deputado do 89o Distrito ($$$)Leblon, Ipanema, Lagoa, Jardim Botânico, Gávea, São Conrado (mas sem a Favela da Rocinha!! Gerrymandering, lembram??)/Rio de Janeiro-RJ – o Emo. Sr....

- Jair Bolsonaro (!)


Por isso que as minorias somem.

Em cada distrito, vira um “referendo”: “A ou B”.

Ou melhor: “A ou anti-A”!

Não tem espaço para C, D, E, F...

(negro, mulher, gay, ecologista, professora, médica...)

Maria: Ah! O truque é transformar em majoritária! Agora faz sentido!

Romulus: É diferente do "distritão".

No “distritão”, cada ~Estado~ vira um grande e ~único~ "distrito eleitoral”, como já é hoje.

Mas...

(e esse é um “mas” enorme!)

- ... onde são eleitos os mais votados ~individualmente~.

O "distritão" é igual ao sistema atual, mas piorado:

- Acabam os Partidos!

Isso porque em SP, p.e., entrariam os 70 mais votados ~individualmente~ no Estado – o “distritão”.

Não haveria mais a figura do "puxador de votos".

Distorção sim, mas que pode ser “do bem” ou “do mal”:

- E.g., Enéas/ Tiririca/ Maluf/ Suplicy/ Jean Wyllys/ Bolsonaro/ Ciro Gomes.

Não seria mais possível “carregar”, com votação expressiva, uma “bancada pessoal”. Levar para Brasília correligionários menos votados, que não chegaram, sozinhos, ao quociente eleitoral.

Sequer haverá mais essa tal “votação expressiva”.

Isso porque o máximo de votos possível de cada deputado passa a ser o número de eleitores do ~seu~ distrito. Nada mais do que isso.

Parece lindo, né?

"Democrático"...

Mas...

"70 mais votados" em SP = 70 que receberam mais grana!

A infame “bancada do Cunha”, em vez de "100", seria de "400" (!)

Olha aí a quem interessa o “distritão”:

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Cunha, Picciani e o PMDB eram a “cara” do “distritão” sim...

Mas em 2015!

Em 2017, a “nova” (velha...) “cara” do “distritão” é o Dep. Miro Teixeira, da (caiu na...) REDE, de...

- Marina Silva! (Itaú)

Sim, Miro Teixeira...

- ... o deputado da Globo!


Da Coluna de Tereza Cruvinel no Brasil247:

Reforma política: Partidos bichados agora querem “distritão”

1 de Junho de 2017

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Antes do estouro da delação da JBS, que atingiu em cheio Michel Temer e Aécio Neves (PSDB-MG), ferindo também grandes partidos como o PMDB e o PSDB, tudo se encaminhava, no Congresso, para a aprovação de uma reforma política que tinha como pilares o voto em lista fechada e o financiamento público de campanhas. Com o repique da crise política, o ambiente mudou. Agora a tendência é aprovar o “distritão”, sistema pelo qual são eleitos os mais votados em cada estado. Proposta de emenda constitucional do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), neste sentido, obteve ontem o apoio de mais de 350 deputados. Em entrevista ao 247, o relator da reforma política, deputado Vicente Cândido (PT-SP), fala desta mudança do vento e das perspectivas de aprovação da reforma.

Brasil 247 – Há três semanas, havia um quase consenso em torno de seu parecer sobre a reforma política, que propunha o voto em lista fechada e o financiamento público de campanhas. O que mudou e por quê?

Vicente Cândido - A disposição mudou realmente. Uma semana antes de vir a público a delação da JBS, tivemos uma reunião na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com a presença do presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, e dos presidentes dos dez maiores partidos. Naquela reunião ficou bem encaminhada o seguinte acordo: faríamos uma transição adotando a lista pré-ordenada nos pleitos de 2018 e 2020 e depois adotaríamos o sistema alemão, adaptado às condições brasileiras. (Nota da entrevistadora: o sistema alemão combina o voto distrital com o voto proporcional. Ao votar no partido de sua preferência, o eleitor determina quantas cadeiras cada sigla terá no Parlamento. E ao votar nos candidatos distritais, escolhe os ocupantes das vagas). Na semana seguinte estourou o escândalo da Friboi e isso espalhou um certo pânico entre os grandes partidos hoje atingidos por denúncias de corrupção, a começar do PSDB, que já havia assimilado o sistema de lista. Agora estão dizendo que será muito difícil, para partidos que estão com sua imagem arranhada, enfrentar uma eleição no ano que vem com o sistema de lista fechada. Neste sistema, como se sabe, o eleitor vai escolher um partido, ao votar em sua lista de candidatos, e não um candidato individualmente. Então, está havendo este recuo em relação à proposta da lista, em favor da proposta de adoção do “distritão”.

247 – De quem mesmo é o recuo?

Cândido – PSDB, PMDB e demais partidos que temem sofrer um grande encolhimento de suas bancadas, se tiverem que ir para a campanha com um sistema em que o partido terá grande visibilidade, tornando-se objeto de escolha. Aí entram PP, PSD, todos estes... Eles acham que o “distritão” será um sistema mais conveniente para as condições da disputa de 2018.

247 – Então, por favor, explique aos nossos leitores-eleitores o que vem a ser mesmo o “distritão”...

Cândido – Tomemos, por exemplo, o caso de São Paulo. O estado constituiria um grande distrito eleitoral. São Paulo tem direito a 70 cadeiras na Câmara dos Deputados. Serão eleitos os 70 candidatos mais votados, que farão campanhas individuais, sem contar com o puxador de votos (papel que no outro sistema cabe ao cabeça da lista) ou com o voto em legenda. Serão 70 campanhas diferentes. O problema é que este sistema é incompatível com o financiamento público de campanhas. E como é sabido, não existe ambiente para o restabelecimento do financiamento por doações privadas.

247 – Por que a incompatibilidade?

Cândido – Veja o que acontece. Em 2014, tivemos 22.300 candidatos a deputado federal em todo o país. Por mais desestimulante que seja hoje o ingresso na carreira política, em função de todos os escândalos de corrupção, fundamentalmente ligados ao financiamento de campanhas, eu creio que teremos pelo menos 15.000 candidatos em 2018. O financiamento público será impraticável se tivermos que dividir os recursos do fundo eleitoral com 15 mil candidatos. Teremos que garantir recursos também para as campanhas de candidatos a deputados estaduais, a governador, senador e presidente da República. Estimando que o fundo eleitoral venha a contar com R$ 2 bilhões de recursos públicos, mais uns R$ 600 milhões de doações de pessoas físicas, e uns R$ 500 milhões do fundo partidário, disporíamos de algo em torno de R$ 3 bilhões. Este montante é absolutamente insuficiente num país em que uma campanha para deputado custa pelo menos R$ 5 milhões. Com a lista, cada partido emprega sua verba no financiamento da campanha de uma lista em que estão todos os seus candidatos. Antes, estes grandes partidos resistiam à proposta dizendo que a lista favoreceria o PT. Com o fim do financiamento privado de campanhas, aderiram à lista porque só com ela o financiamento público seria viável. Mas agora estão recuando porque não querem se apresentar ao eleitorado defendendo partidos que estão com a ficha suja.  Entretanto, como resolver o problema do financiamento? Com recursos públicos, ele só é viável se as campanhas forem baratas, o que só é possível com o voto distrital ou com o voto em listas.

247 – E qual é a saída que está sendo apontada?

Cândido - Este é o exercício que teremos de fazer nos próximos dias. Os defensores do “distritão” vão ter que dizer como seriam financiadas as campanhas neste modelo. Tivemos conversas preliminares, mas não surgiu nada de concreto, ficando este debate para um momento posterior. Mas teremos de dizer aos eleitores brasileiros como serão as campanhas, quanto custarão e como serão distribuídos os recursos públicos. Na minha opinião, era este o momento de fazermos uma reforma política para valer, mudando radicalmente a cultura política que tantos males já nos causou. Era hora de fortalecermos os partidos e de trocar as doações de empresas pelo financiamento público, com uso responsável destes recursos. Ou seja, fazendo campanhas austeras e curtas e disputas isonômicas. Nos próximos 15 dias teremos que encontrar respostas para estas questões.

247 – Por que nos próximos 15 dias?

Cândido – Porque precisamos aprovar esta reforma política até o final do semestre, deixando algum tempo para o Senado, onde ela terá que ser votada até o final de setembro. Eu creio que até o dia 25 de junho poderemos votar na Câmara, dependendo do acordo que conseguirmos firmar. Ainda há tempo.


Volto eu, Romulus:

“Distritão”??

- Corram para as montanhas!!

(e de lá comecem a guerrilha maoísta... porque ~bancada~ de esquerda no Parlamento, via eleição, NUNCA mais!)

*


Ciro: Existe em alguns países distritos que elegem mais de um congressista, e aí os partidos em geral escolhem lançar o número de candidatos viável para conseguir se fazer representar - seria como a eleição de senador hoje nas vezes em que elegemos 2 senadores.

Ainda é uma majoritária, mas com duas vagas.

Romulus: Atenção! “número viável” ~não~ necessariamente quer dizer o número total de vagas disponíveis no distrito!

No meu exemplo do “Distrito ~Gourmet~ do FHC”, da “gente diferenciada”, imaginemos que há duas vagas disponíveis.

Nesse caso, seria ~pior~ para o PT lançar o Suplicy ~e~ o Haddad como candidatos.

Isso porque os eleitores “centristas” podem se dividir em chapas híbridas: “FHC + Haddad” ou “FHC + Suplicy”.

Como todo mundo de direita, ~maioria~ no distrito, votará numa chapa “puro sangue” hipotética – e.g. “FHC + Serra” – a divisão dos ~centristas~ entre os ~2~ candidatos do PT asseguraria a vitória da chapa “puro sangue” tucana!

E isso independentemente de a minoria de esquerda no distrito votar, também em bloco, na chapa "puro sangue" vermelha: "Suplicy + Haddad".

Ora, é mi-no-ria!

A única chance de eleger ~alguém~ de esquerda nesse distrito seria, com o lançamento de apenas ~1~ candidato, concentrar todos os votos "híbridos" dos centristas nesse candidato ~único~.

Ciro: Outra distorção do sistema distrital é que muitas vezes se calcula que um partido tenha tamanha hegemonia eleitoral sobre os demais que se prefere não lançar candidato (e gastar recursos) tentando virar o distrito.

Assim, acontece um fenômeno interessante de se ter uma eleição em que só há um candidato (!)

Decisão imposta pela realpolitik dos partidos, mas que ilustra perfeitamente a distorção intrínseca ao sistema distrital, que é impedir a minoria local de se fazer representar no parlamento.

Nos EUA, em boa parte das disputas para o Legislativo estadual acaba não havendo opção. E a eleição torna-se uma ~mera~ formalidade... destinada a sacramentar a "eleição" de um... candidato único!

Paroxismo:

Quando você alia o Gerrymandering (que cria hegemonias políticas locais) com o imperativo econômico dos Partidos de só gastar recursos onde é possível ganhar, pode-se chegar a situações como a da Geórgia em 2016, em que 80% (!!!) dos assentos legislativos estaduais não tiveram disputa, porque havia candidato único. (!!!)

Hiper democrático, né?




Romulus: Alô, Vicente Candido! (2) 


Ciro: As eleições "sem concorrência" também são extremamente comuns para os DA (district attorneys - Procuradores locais) e para juízes na maioria dos Estados que os elege nos EUA.

Mostra o quão importante é o "acordão" dos partidos na nomeação e manutenção de um Procurador.

O pessoal da Lava Jato adora imitar os EUA, mas acho que não ficariam muito felizes em terem de enfrentar eleições...

Inclusive em "chapa" (informal) com candidatos - partidários... Oh! - ao Executivo e ao Legislativo!



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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como "uma esquerdista que sabe fazer conta". Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

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