Destaque:

Estado brasileiro na encruzilhada. Já sabemos o que a Globo quer... e você?

Queria poder dizer que criei esta montagem, mas não... recebi de um seguidor no Facebook, como comentário a um artigo anterior. rs ...

5.12.16

"Que po##a é essa?" vol. 2: metalinguagem - análise política entre millennials e babyboomers


"Que po##a é essa?" vol. 2: mais metalinguagem. Análise política perdida em algum lugar entre a geração Millennial e os seus pais, os Babyboomers


Por Romulus & "núcleo duro"


Romulus E Maya Vermelha Logico que tive que publicar! Na "ágora" caótica das redes sociais, essa discussão, pequena pela síntese que o meio pede, mas grande pelos participantes e qualidade dos argumentos, mostra toda a complexidade do tema.

Maria "Menas", Sandra, "menas"... Eu, que não curto pra nada viagem de ego, ainda me ver obrigada dizer a uma pessoa brilhante como você que me poupe desse exagero e, além do mais, em exposição pública? Vixe!!

Romulus E Maya Vermelha pra você ainda é justo, mesmo que sinta desconforto com o elogio. Pior é "gigante" pra mim. Po, cheguei agora! Sou ninguem na fila do pão! :-D
(tinha fingido que não tinha visto... você tinha que mencionar, né... rs)

Maria Será que fica melhor se você fingir que ela está se referindo ao tamanho "gigantesco" dos seus posts? rsrs

Romulus E Maya Vermelha boa: os meus são gigantes mesmo rsrsrs

Sandra Helena Souza Olha gente, eu posso eliminar os elogios. Eu também sou reticente a eles. Mas retiro e mantenho em silêncio, se for o caso. Porque é verdade. O que aprendi e reaprendo lendo seus comentários, Maria eu não troco por montanhas de Lattes ambulantes que me circundam. Vc é assombrosamente culta, lúcida e de esquerda ainda mais. Lo siento. E qto a Romulus o gigantismo dos post é resultado de um esforço gigante de demonstrar o pensamento em registro que ainda nasce [Romulus: é exatamente isso, Sandra!], combinando textos, prints, memes, tentando dominar, criar a semântica de uma nova linguagem e com um conteúdo certeiro. Pô, sou professora de filosofia e semiótica e isso não é banal. Meus alunos adoraram a forma, que claro ainda vai melhorar. Mas já é uma inscrição comunicacional desses tempos. É isso.

Maria Filosofia e semiótica? To começando a entender melhor a sua cabeça! Gostei do comentário sobre o "caos" estilístico do R. e também saber que os alunos gostaram. Mas estou em campanha tentando convencer a criatura a diminuir um pouquinho o gigantismo da coisa, principalmente pela autofagia que engole praticamente todos os comentários no próprio texto (inclusive os nossos, que poderiam ser postados no blog) e pelas atualizações 3 vezes por dia, que tornam a leitura infindável e quase impossível o compartilhamento. Queria saber o que a sua cabeça semiótica diz disso.

Sandra Helena Souza Concordo. Acho que ele vai encontrar o caminho. Mas o conceito é ótimo. É como a palestra, os slides e os comentários da platéia tudo junto. Só falta a trilha sonora kkkk

[Romulus: incrível, Sandra! Usei a mesma metáfora na semana passada falando sobre isso com o Tiago Nunes!]


Maria Trilha sonora? Em geral costumava ter... Não sei se agora, dada a extensão e a complexidade do caos a comentar, que não permite destaques. Mas no Calero teve, até duas...

Sandra Helena Souza Hehehehe


Maria Tempos atrás tentei sugerir que ele pensasse na teoria do Clifford Geertz da cultura como interpretação, onde as significações se ampliam segundo a intencionalidade do enunciado e o âmbito em que elas são difundidas/ reinterpretadas - "camadas estratificadas de significados". Isso permitiria domar o caos ou pelo menos ordená-lo segundo a sua intenção e não a que fosse surgindo, incontrolável, do stream of consciousness. Mas se é disso que ele mais gosta... É lindo, claro, pode virar poesia... Mas é duro falar de capital financeiro, agências reguladoras, taxa Selic etc etc e achar que dá pra fazer poesia com isso. Humor, sim, é claro, e ele usa com maestria. O risco é a dispersão, onde uma coisa puxa outra e mais outra, em outra versão do stream of consciousness. Aí não há demonstração que saia incólume...

Sandra Helena Souza Está ouvindo Romulus E Maya 😎?
Melhor, lendo???😊

Amei essa conversa de vocês. E concordo com todos os elogios da Sandra.

Romulus E Maya Vermelha A campanha da Maria para que as discussões fiquem nos comentários é muito válida.
Facilitaria enormemente a minha vida - e diminuiria a quantidade de atualizações.
O problema é que ainda é uma minoria. A maioria das reações vem de (e ficam em) Face (mural e inbox), twitter (tuite e DM), whatsapp, etc.
Tomara que com o tempo dê pra disciplinar mais.

As atualizações são, muitas vezes, não atualizações mas continuações... "follow ups". Se fizesse post autônomo o no. de pessoas que os leria seria uma fração. Da ordem de 10 para 1 (agora eu tenho acesso aos numeros! rsrs).

Sobre o tamanho, minha ideia é que as pessoas notem, com o tempo, o quanto os “follow ups” são autônomos e os vejam como “capítulos”. De forma que podem parar ao final de um e voltar depois para ler o seguinte.

O [post original + follow ups] seria um (mini) blog em si. Ninguém senta em frente a um blog e lê todos os posts de uma vez, certo?

Pois então se o tempo ou a energia faltar, que façam a leitura em partes desses [posts + atualizações] também.

Romulus E Maya Vermelha Sandra Helena Souza fico muito feliz de saber que os seus alunos curtem o estilo. É como o Aroeira falou outro dia... não tem gente da minha idade, com a cabeça com (e sujeita) a fragmentação das varias redes sociais, fazendo ~ análise ~ política. Os que fazem são mais velhos. E "sérios". Textos só na forma tradicional. Emojis? Nem pensar!

<<Não é à toa que a geração millennial foi presa fácil para a direita no movimento golpista. Ng está dialogando com ela. Não tem formação política porque quem pode ensinar despreza os seus códigos. Querem que ela é que "cresça" e venha se comunicar como os "adultos". Tem arrogância e intolerância de parte a parte>>

E eu fico no meio do tiroteio rs

Pego meu próprio exemplo... pois no início da minha vida de blogueiro eu – de forma esquizofrênica – não me livrava da minha porção millennial para escrever “como gente grande” no Blog do Nassif?

Reprimia tanto o meu millennial – como antes o fizera em redações da escola, do vestibular, da faculdade, do escritório de advocacia, das pós-graduações... – que todos se chocavam ao ver que quem escrevia “aqueles posts” “era um menino”.


A própria Maria disse ao me conhecer - laaaaaá atrás... - que pensava que eu fosse um colega, professor de Ciência Política, de uns 65 anos! rs

Aquele texto eu sei fazer sim... sempre o fiz muito bem. Nota máxima no vestibular, inclusive. O que me fez ir para as cabeças...

Mas, de fato, como registra a Maria, hoje a maior graça vejo em fazer essa “novidade”:

(1)“palestra, os slides e os comentários da platéia tudo junto” (apud Sandra)
+
(2) “demonstrar o pensamento em registro que ainda nasce” (apud Sandra (2))
+
(3) o meu toque (mais ainda...) pessoal para além da forma, chegando ao conteúdo (tem diferença? To mais p/ "um apple", que funde software e hardware, não?):

- ligar “lés” com “crés” que antes pareciam não ter nada a ver, com metáforas (porque é assim que a minha cabeça funciona!). Sempre gostei de todos os campos do conhecimento - que dificuldade escolher <<uma>> profissão! – e sempre fiz ligações. Nunca os tratei de maneira estanque dentro da minha cabeça.

Romulus E Maya Vermelha Aliás, quem faz um trabalho fantástico de diálogo com millennials, caindo de cabeça na cultura youtuber, á a dep. Manuela D'Ávila. Compartilho sempre que vejo os vídeos dela.

Ainda nesta semana compartilhei um sobre a morte do Fidel.




Não por acaso ela é apenas um pouco mais velha do que eu e também está em algum lugar entre Millennials e Babyboomers.

Romulus E Maya Vermelha PS: vou colocar este papo metalinguistico aqui no blog, pra gente ter mais subsidios e pra divulgar a campanha da ML. Rs

*



(...)

Giselle Muito bom! Começa a se desenhar um livro?????😉

Maria Giselle, você sabe que eu trabalho com edição de livros, e nem em mil anos eu veria como começar a fazer desse melê todo o princípio de um livro!! rsrs.

Ciro Só em imaginar fazer um livro disso eu fico com vertigem!

Maria Eu também! Se bem que um designer gráfico fera talvez fosse capaz de ordenar a gandaia gráfica como hipertexto e aí até dava pra deixar mais "legível" o resto. Mas não há designer que consiga ordenar o stream of consciousness no passa passa de um tema a outro. Aí teria que deixar a "decifração" por conta do inconsciente do leitor...rsrs Vixe!!

Romulus Algum amigo talentoso do Renato Aroeira! rs

Maria Mas lembre que inteligência, humor e talento não fazem sozinhos um bom designer gráfico. O Aroeira deve certamente conhecer algum. Eu conheço pelo menos uns dois.

Ciro Ontem eu (que não sou muito de criticar o estilo) achei q aquela parte de trollagem com o analfabetismo do Moro (por mais divertida que seja) não passou de poluição visual e intelectual, quebrando completamente o fio da meada.

Romulus Mas foi atualização, Ciro!
Atualizações são praticamente posts autônomos.

Romulus a parte q o Tiago mais gostou foi a trollagem no Moro. É pq ele é ateu e vc foi criado cristão. rsrs

Ciro Além do que, o alvo merece a trollagem.

Maria Pois é, eu também senti isso em vários outros momentos. Acho que o problema é o tamanho dos posts, a autofagia que leva a engolir os comentários no próprio post. Tentei sugerir que parte dessas discussões fosse feita como um diálogo nos próprios comentários, como ele já fez várias vezes no GGN. Mas aí a voracidade de não deixar escapar nada, o trabalho de produzir os posts e a imensidão do esforço de divulgação na base do time do eu sozinho é pra exaurir qualquer um. Daí entendo que se enfie tudo num só post. Eu sempre quis ajudar, desde muuuuito antes, mas você se lembra do conflito que provocou a questão do tal estilo, como se qualquer discordância fosse crítica inaceitável. Nunca foi disso que se tratou. Ao contrário, era um esforço conjunto para ajudar o Rom a chegar à sua meta e obter o mais que merecido reconhecimento de sua inteligência e de seu brilho, escapando da sacanagem de que podia ficar preso, como numa armadilha. Eu continuo a postos, como sempre, mas só dá pra fazer - se é que - o que ele quiser ou pedir ou aceitar. Não sei você, mas este é o meu limite, infelizmente. Claro que alguma tradução sempre pode ajudar, mas não resolve o problema, que agora está chegando até até alguns ótimos leitores, competentes e colaborativos, entre os Amigos da Maya.

Romulus "como se qualquer discordância fosse crítica inaceitável"?
IMAGINA! Sou masoquista: adoro ser criticado!
E, em geral, levo o produto junto com a crítica p/q cada 1 faça a sua escolha.
A questão, como a gente já falou, é sopesar a satisfação de <<todos>> (?) os leitores com a minha pessoal tb.

Giselle Muito trabalho, mas na leitura digital e para os jovens seria uma boa pedida de leitura. Vejo pelo meu filho de 16 anos, a formatação da internet e a dinâmica colocada seria um bom atrativo. Ou então já estou tão viciada ao estilo que nem percebo mais o "caos". Hehehehehe!

Romulus tem isso tb, Giselle. Tava falando isso com o Renato Aroeira outro dia...
Muito da resistência é geracional.
Jornalistas tradicionais torcem o nariz para o uso de emojis, de prints...
Os millennials VIVEM disso.

Como sou dos primeiros anos da geração Millennial, tenho um pouco de cada coisa.
Tento fazer uma ponte.

Renato Aroeira Acho que você coloca conteúdo "adulto" no tipo de discurso que os "jovens" fazem, seja lá o que esses termos signifiquem. E esse raciocínio matricial, meio divergente, que se reencontra mais na frente e dá voltas, complica a vida dos velhinhos seguidores do causa-efeito-tempo-linear. Eu acredito que forma e conteúdo se confundem (às vezes), e acho que os raciocínios unidimensionais dos velhotes NÃO entendem esse mundo de layers. Por causa disso, fico com o "caos".

Tania Renato Aroeira Protesto! Sou velhinha, mas geralmente acompanho bem, tá? a questão não é acompanhar ou não, mas o trabalho e a preguiça que dá rs.

Romulus Imagina o trabalho pra fazer! Rs

Mas é como tava falando outro dia pro Aroeira.

Eu prefiro mostrar o material bruto que chegou a mim (grosso modo os prints) e como eu os li.

E aí cara um que lê constrói como quer.

Não me sinto bem - acho desonesto intelectualmente - simplificar e/ou dizer, num discurso direto e linear:

"Isso é assado e é assim que você deve pensar".

Não gosto de fazer ~ recomendação ~ "deve ser assim".

Gosto de apresentar argumentos contra e a favor e chamar à reflexão.

Tania Romulus E Maya Vermelha e sem preguiça, o que é de tirar o chapéu!

Romulus É meu lado obsessivo. rs

Chamar à reflexão é democrático.
Eu adoro ler como é, já te falei que minha cabeça funciona assim também, mas o que quero te dizer é que aqui, neste seu cantinho fofo, aconchegante, cada pedido de ajuste aqui ou ajuste ali é regado de carinho.
Quem enxerga de fora, no caso, eu, vê até os coraçõezinhos.
Não sofra, são as melhores "críticas", na verdade, os melhores conselhos, só é difícil conciliar cada conselho, mas vale a pena tabular e extrair o melhor de cada um deles.

Ops! incluindo o prazer do escritor, isso com toda certeza.

Romulus OBS: essa discussão aqui ta tão boa (eu sou masoquista (2)) que vcs vão acabar me forçando a colocar uma "atualização" e "caotificar" esse post clean da Maria tb! rsrs

Maria Não vejo nenhum caos, Giselle, exceto pela desordem gráfica que vira poluição visual. No mais, o raciocínio, coerente e brilhante, está lá. Vejo como problema a dispersão que se multiplica em excesso em outros temas conexos e, sobretudo, o tamanho dos posts, com as atualizações. Se fosse possível resolver o problema prático das postagens nos comentários, acha que resolvia quase tudo.

Giselle Sim! Só fiz a colocação pq estou acostumada com a visualização e o tipo de leitura que vejo meu filho fazendo. Têm coisas que nem consigo entender no "caos"dessa nova comunicação. Eu apanho muito.

Maria Eu também apanho, mas estou me "realfabetizando" como sugeriu o Aroeira. Nem acho isso ruim, conforme comentei num post do Carlos Eduardo. Mas por estar acostumada a editar livros de arte, o que me incomoda na gandaia visual é sua pura feiura, que um bom designer gráfico saberia ajeitar sem perder nada da leitura e do conteúdo...

Romulus Mas é difícil... pela dispersão das redes. Recebo feedback no Face, no twitter, no Whats....

"Soluçao": prints e fazer convergir tudo para um mesmo lugar. Tentando encadear ligando "lés" com "crés".

Romulus OBS: já disse pra vcs que o Google concorda com os críticos, né?




Romulus Continua pro bono então rsrs

Morro pobre, mas...


<<o caos fica!>>

Ciro Mercado sempre te sabotando né?

Tania Hahahaha!

*

Opinião do expert:




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Quer ler mais sobre o "caos" millennial e as reações "ame-o ou deixe-o" que suscita?

Leia o Vol. 1 de "Que po##a é essa?":



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Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?


- Pois você não está só! Clique na imagem e chore suas mágoas:


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https://lh3.googleusercontent.com/J5GR6RTZJ7pt1pkG0gIEZkqS9Zh-YP0epXqEy8zXOX1yTFAFV4RPbrk0-t08q7O9Qw7eoSaGDjC0sLzVIAhmSRv7WRvhjB6GyUxfdW0l5YjXCQhlSDhyzGjtlRx7IQtH3DlI7us

*

(ii) No Facebook:

https://lh6.googleusercontent.com/7qDhkW7kt2VUdiKDI7Fb_MN6iBzhKh3WZ6JCcpDBiYwZlfGfQirNKx1CBirbVf02S02piZuC2TquQXACfNszK5U8iHFvOAKYKh73ZzA4RA9tV3smMzTDDaGZETShHSC5D6NNJuc

*

(iii) No Twitter:

https://lh5.googleusercontent.com/qdEvmS27_bnYauukZLgaQDwCoxsttlV9VlEkqxpaB4I2K3FR7wn2l3ftcP5HcuT_8FJL2eyAhfYt7gKttSTt-v-ZyjVpxrnGRwpmzcQmWwPZqlQ2UZdD67AiWb_605U9S6S69fE

*

(iv) E também no GGN, onde os posts são republicados:

https://lh5.googleusercontent.com/YHvaoddoegv9hVMP9ntNrtER6BwiamTqYUvBA6fRMAkOwiSD0kq-3SrfOIIEVWRzPfs-H8FJ6NWFqesjopT4-XaxupwOQcB-vlaYQqsyP6_0B7zQ8JIC3FsvWTsCj15DXoNj3Uc

*



Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como "uma esquerdista que sabe fazer conta". Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.





Um comentário:

  1. Caro Romulus, se bem me lembro de conversas suas com Maria, entendo que a observação dela sobre formação política referia-se a uma questão de CLASSE, não só de geração. Acho importantíssima toda a discussão que você está levantando, e concordo 100% com ela. Mas tenho que concordar com Maria, porque ela falava de outras redes que não a internet e FB. Sei disso porque, de certo modo, tenho uma experiência muito próxima à dela. Eu mesma só passei a usar o FB a contragosto, como arma política, depois da condução coercitiva do Lula, e ainda com a consciência de que eu falava para o meu próprio grupo, e na condição de autoridade - diante, em sua maioria, de ex-alunos, aqueles que eram meus "amigos de FB". Mas minha vida inteira, como Maria, eu aprendi que era preciso falar para FORA do meu grupo.

    Essas eram as outras redes. Sindicato era só uma delas, organizada. Casas paroquiais foram outras, no tempo das CEBs. Era pros fins de mundo onde elas existem que eu ia dar aula, junto com com pessoas do antigo Ensino Vocacional. Marilena Chauí, enquanto isso, na USP, falava com os intelectuais e ajudava a fundar o PT - e graças a Deus por isso, o que me deixava como função, na universidade, dar aula em 3 cursos num semestre, para cobrir colegas empenhados na mesma luta. Mas não eram essas as únicas experiências. Era preciso falar para FORA do gueto da academia.

    Você imagina o que é coordenar (estilo one man show ) um seminário pra professores em Rondonia - com meia dúzia deles que citava bibliografia uspiana pra mostrar que lá "não tinha só índio, como eu pensava (!)", enquanto todos os outros, muitos com cara de índio, permaneciam calados, boquiabertos? Só ao fim de 3 dias consegui desmontar essa armadilha para que, enfim, esses pobres professores falassem de suas dificuldades reais em dar aula para classes onde crianças indígenas assustadas, que mal falavam português, eram hostilizadas pelas demais crianças "brancas" (na verdade, mamelucas e cafuzas) - exatamente como, mais tarde, ouvi contar das crianças do quilombo Kalunga, em Goiás, enquanto ajudava a fazer um livro didático para os professores de lá. E havia ainda as outras micro-redes, de parentesco, vizinhança, igreja, associação amigos de bairro ou usuários do único equipamento de lazer, em comunidades de pescadores, de sertanejos nordestinos ou incontáveis bairros de periferia, pra onde me levaram visitas ocasionais ou, sistematicamente, meu trabalho de pesquisa de campo.

    Era para essa gente que, como te dizia Maria, eu tinha consciência de que é preciso falar - até porque, sendo cidadãos de 5a. categoria, ainda são eleitores, e votam, aprisionados nas redes de clientelismo que até hoje são a base do PMDB, maior partido do Congresso. Desses, eu tenho certeza de que, millenials ou não, não tem computador em casa ou, quando usam a internet, é pra fazer trabalho de escola, ver horóscopo ou site de "mulher pelada". Outra coisa muito diferente foi o uso da internet e tecnologia em geral a que o Gilberto Gil deu acesso a gente desses fundões, ao fomentar a criação dos Pontos de Cultura - permitindo que índios ou cortadores de cana brincantes de maracatu aprendessem a gerenciar a própria auto-imagem e a divulgação de sua criação.

    Tudo isso que estou dizendo não é para "criticar" a questão essencial da distância geracional que você coloca com razão no post, mas pra mostrar que às vezes existem mais mistérios entre o céu e a terra do que suspeita nossa vã filosofia...

    PS. Ia me esquecendo de te dizer que uma vez quase fui excomungada na universidade quando, escrevendo para o catálogo de uma exposição, ousei dizer que as novas tecnologias criavam outras linguagens e formas de produção e divulgação de conhecimento que agora faziam concorrência com os sacrossantos livros de nossa bibliografia! Qualquer hora te mando o textinho...

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