tag:blogger.com,1999:blog-6768021185858077907.post6492793546782991557..comments2023-08-27T23:33:03.997-03:00Comments on R O M U L U S br.com: "Que po##a é essa?" vol. 2: metalinguagem - análise política entre millennials e babyboomersRomulus Mayahttp://www.blogger.com/profile/05725335211794884632noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-6768021185858077907.post-62995055683301531582016-12-05T15:13:03.800-02:002016-12-05T15:13:03.800-02:00Caro Romulus, se bem me lembro de conversas suas c...Caro Romulus, se bem me lembro de conversas suas com Maria, entendo que a observação dela sobre formação política referia-se a uma questão de CLASSE, não só de geração. Acho importantíssima toda a discussão que você está levantando, e concordo 100% com ela. Mas tenho que concordar com Maria, porque ela falava de outras redes que não a internet e FB. Sei disso porque, de certo modo, tenho uma experiência muito próxima à dela. Eu mesma só passei a usar o FB a contragosto, como arma política, depois da condução coercitiva do Lula, e ainda com a consciência de que eu falava para o meu próprio grupo, e na condição de autoridade - diante, em sua maioria, de ex-alunos, aqueles que eram meus "amigos de FB". Mas minha vida inteira, como Maria, eu aprendi que era preciso falar para FORA do meu grupo. <br /><br />Essas eram as outras redes. Sindicato era só uma delas, organizada. Casas paroquiais foram outras, no tempo das CEBs. Era pros fins de mundo onde elas existem que eu ia dar aula, junto com com pessoas do antigo Ensino Vocacional. Marilena Chauí, enquanto isso, na USP, falava com os intelectuais e ajudava a fundar o PT - e graças a Deus por isso, o que me deixava como função, na universidade, dar aula em 3 cursos num semestre, para cobrir colegas empenhados na mesma luta. Mas não eram essas as únicas experiências. Era preciso falar para FORA do gueto da academia.<br /><br />Você imagina o que é coordenar (estilo one man show ) um seminário pra professores em Rondonia - com meia dúzia deles que citava bibliografia uspiana pra mostrar que lá "não tinha só índio, como eu pensava (!)", enquanto todos os outros, muitos com cara de índio, permaneciam calados, boquiabertos? Só ao fim de 3 dias consegui desmontar essa armadilha para que, enfim, esses pobres professores falassem de suas dificuldades reais em dar aula para classes onde crianças indígenas assustadas, que mal falavam português, eram hostilizadas pelas demais crianças "brancas" (na verdade, mamelucas e cafuzas) - exatamente como, mais tarde, ouvi contar das crianças do quilombo Kalunga, em Goiás, enquanto ajudava a fazer um livro didático para os professores de lá. E havia ainda as outras micro-redes, de parentesco, vizinhança, igreja, associação amigos de bairro ou usuários do único equipamento de lazer, em comunidades de pescadores, de sertanejos nordestinos ou incontáveis bairros de periferia, pra onde me levaram visitas ocasionais ou, sistematicamente, meu trabalho de pesquisa de campo. <br /><br />Era para essa gente que, como te dizia Maria, eu tinha consciência de que é preciso falar - até porque, sendo cidadãos de 5a. categoria, ainda são eleitores, e votam, aprisionados nas redes de clientelismo que até hoje são a base do PMDB, maior partido do Congresso. Desses, eu tenho certeza de que, millenials ou não, não tem computador em casa ou, quando usam a internet, é pra fazer trabalho de escola, ver horóscopo ou site de "mulher pelada". Outra coisa muito diferente foi o uso da internet e tecnologia em geral a que o Gilberto Gil deu acesso a gente desses fundões, ao fomentar a criação dos Pontos de Cultura - permitindo que índios ou cortadores de cana brincantes de maracatu aprendessem a gerenciar a própria auto-imagem e a divulgação de sua criação. <br /><br />Tudo isso que estou dizendo não é para "criticar" a questão essencial da distância geracional que você coloca com razão no post, mas pra mostrar que às vezes existem mais mistérios entre o céu e a terra do que suspeita nossa vã filosofia... <br /><br />PS. Ia me esquecendo de te dizer que uma vez quase fui excomungada na universidade quando, escrevendo para o catálogo de uma exposição, ousei dizer que as novas tecnologias criavam outras linguagens e formas de produção e divulgação de conhecimento que agora faziam concorrência com os sacrossantos livros de nossa bibliografia! Qualquer hora te mando o textinho...maria.mariahttps://www.blogger.com/profile/06919458756576137621noreply@blogger.com