Atravessar o Rubição significa ultrapassar um limite que não se sabe qual será o desfecho. A expressão tem origem na Roma antiga, quando durante o período da República o rio Rubicão representava um limite geográfico, religioso e político, além do qual as Legiões Romanas não podiam ultrapassar armadas sem afrontar a autoridade do Senado Romano e colocar em risco a estabilidade interna.
A partir daí “atravessar o Rubicão”, sobretudo em política, adquiriu um significado simbólico sobre um impasse, sobre uma situação que chegue a um ponto de não retorno. Muitas situações de pré guerra estiveram analogamente associadas a essa expressão.
Mas, um rio não é ultrapassado de maneira imediata e sem uma preparação prévia. Alguns passos são necessários para chegar à sua margem, escolher o melhor ponto de travessia e enfim iniciar a empreitada sem saber o que será encontrado do outro lado.
Na política brasileira recente esses passos vem sendo dados há algum tempo. O primeiro deles foi o pedido de recontagem dos votos na eleição de 2014. Depois disso seguidos e largos passos foram dados em direção à margem desse rio.
A pauta bomba de Eduardo Cunha, a decisão de prisão de Delcídio do Amaral, o vazamento do áudio da conversa de Lula e Dilma, a suspensão pelo Senado da decisão de afastamento de Aécio pelo STF, todo o processo de impeachment, algumas atitudes da PGR, da Lava-Jato e da PF, enfim, as mais diversas atitude dos mais diversos atores políticos vem se constituindo na marcha cega em direção à travessia desse nosso fictício Rubicão institucional.
Acredito que desde o impeachment de Dilma já estamos irremediavelmente com os pés molhados pela água desse rio, mas a decisão de atravessá-lo definitivamente será dada pelo julgamento do Habeas Corpus amanhã no STF, seja qual for o resultado.
A decisão do Senado Romano de proibir que Legiões armadas atravessassem o Rubicão tinha o objetivo de preservar o poder político do povo, representado pelo Senado ou SPQR (no original Senatus Populusque Romanus) que pode ser traduzida como "O Senado e o Povo Romano" do poder armado das Legiões.
Ou seja, a proibição era uma garantia contra golpes de Estado e contra lutas internas ou intestinas na República. Nós desprezamos esta lição.
A decisão do STF marcará definitivamente a cisão interna da sociedade brasileira. Se for favorável ao ex-Presidente, coisa em que não acredito, haverá quem veja na decisão uma proteção à corrupção e a confirmação de que a lei não é para todos. Se for negado o direito ao Habeas Corpus haverá quem veja a confirmação de uma perseguição política. Em ambos os casos a disputa política e a divisão da sociedade se acirrará. E muito.
O General de Legiões e Político Romano Caio Julio César, vindo desde os confins da Gália, atual França, sabia que atravessar o Rubicão significava guerra, o tal ponto de não retorno. Ou sairia dela como um traidor executado e para sempre esquecido entre os meandros da história ou como o glorioso vencedor e governante absoluto da República que queria tornar Império.
Julio Cesar sabia disso. tanto sabia que, segundo os historiadores, quando atravessou o Rubicão, em 49 a.C., violando a lei e tornando inevitável o conflito armado. proferiu a famosa frase “Alea jacta est”.
Cesar sabia. E nós? Sabemos?
A importância do julgamento do STF está na potencial escolha entre dois caminhos, ambos igualmente ruins: a luta cível ou a completa falência das instituições.
"A sorte está lançada".
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