Golpe do Judiciário e invasão americana: por que o PT não dá nome aos bois?
Por Romulus Maya, para o Duplo ExpressoPublicado 12/fev/2018 – 5:27
Atualizado 12/fev/2018 – 12:50
Atualizado 12/fev/2018 – 12:50
O texto a seguir foi elaborado por observador privilegiado, e qualificado, da política nacional. Mesmo que se discorde das teses que apresenta, são um excelente ponto de partida para o “que fazer?” de 2018 – e, principalmente, além!
No fim, as (sempre) sábias palavras do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, na sua participação semanal no Programa Duplo Expresso (1/fev/2018).
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Como a falta de âncora ideológica – deliberada! – criou a ingenuidade do PT no “republicanismo”, na geopolítica, nas comunicações e na economia
Por “Getúlio de Moura Prebisch”(pseudônimo-síntese rs)
Lembro de ter dito, no final de 2014, que se a Dilma colocasse Levy na Fazenda seria derrubada antes do meio do mandato. Não chegou sequer a tanto. No PT me disseram que era “teoria da conspiração”. Aliás, até um dia antes do final do impeachment, Dilma dizia que não havia “conspiração estrangeira”. Fez isso mesmo depois da sua degola.
Quando disse isso a TVs da Rússia e do Irã, países que não são bobos, escolados que são em operações de desestabilização patrocinadas pelos EUA, repórteres ficaram atônitos diante de tal negativa de Dilma. Insistiram na pergunta, apenas para obter a mesma negativa. Sabiam, contudo, que isso não correspondia à verdade. Chegaram, inclusive, a levar ao ar programa aventando a hipótese de que Dilma estivesse sob ameaças e com medo!
Fazer política em situações de poder real de Estado é decidir sobre hipóteses e não sobre fatos formalizados e consumados, bem aceitos no “mainstream” do mercado de opinião.
Também dizia que se Cardoso não fechasse a Lava Jato até fevereiro de 2015, não só não sobraria nada, como também ele estaria participando do golpe. Até hoje tem gente que acha que não. Dizem, inclusive, que fez uma “fabulosa defesa” de Dilma no “impeachment”!
O mito do cavalo de Troia que bem reflete isso.
Dirceu é outro que, embora compreendesse profundamente o poder e questões de Estado, acabou sendo preso por certa ingenuidade. Não conhecia a real natureza do inimigo – e dos amigos! – e não se preparou com antecedência. Acreditava, genuinamente, que o STF não ousaria, pura e simplesmente, rasgar o direito. Tampouco anteviu ser jogado ao mar, sem maiores traumas, pelo PT.
Ingenuidade. Republicanismo exagerado. O PT permitiu, por omissão, o golpe.
Todos nós vivemos um momento muito perigoso. E nada mais temerário do que fazer política como Poliana, achando que toda hipótese é um “teoria – lunática – da conspiração”. Isso se chama imprudência e temeridade. E o pior é que os imprudentes preferem as teses com menor probabilidade estratégica de confirmação futura se privilegiarem a ideia, simplória, de que as coisas são, de fato, como aparentam. Aliás, como querem que a gente acredite que elas aparentam!
Dilma arrotou que “não sobraria pedra sobre pedra”, lembram-se?
Diante disso, superestimei-a, mais uma vez: cheguei a acreditar que ela teria algum controle.
Que nada!
Era só arroto mesmo!
De fato, “não está sobrando pedra sobre pedra”, mesmo…
– … mas só do nosso lado!
Dilma, aliás, foi a primeira pedra a rolar…
Justiça poética?
Bem… no mínimo, justiça política!
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O Brasil é claramente palco de uma guerra híbrida, com uma agressão estrangeira, unilateral, comandada por sofisticada coalizão “híbrida”, “PPP” (parceria público-privada – transnacional): finança internacional + Deep State americano (capturado pela primeira).
E por que, parceiros do Brasil nos BRICs, Rússia e China não vieram em nosso auxílio?
Ora, eram parceiros internacionais que o PT fez questão de não procurar por medo de o Hélio Gaspari dizer que são “lunáticos”. Ou de que o MBL dissesse “olha só… não avisamos, a todo o tempo, que eles eram, sim, comunistas bolivarianos do Foro de São Paulo?!”
Pragmáticos, esses parceiros, China e Rússia, jogam para ganhar. Precisam de acordos cara a cara para poder colocar o deles na reta.
Vale lembrar que Cardozo foi peça chave nesse enredo todo: convenceu Dilma a portar-se como Poliana. Houve momento em que a Dilma ficou tão aterrorizada e dependente dos conselheiros puxa saco – como Cardozo – que desistiu de olhar para a realidade e ouvir pessoas sábias e sérias. Notem: 90% das pessoas faria o mesmo. Quando ela acordou já não era mais Presidente.
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Aí me lembra outro problema de postura do PT no primeiro mandato do Lula:
– O PT, com o “paloccismo” na Fazenda, não “conciliou”!
– Se tivesse conciliado estaria correto!
– Na realidade, o PT acreditou, realmente, que aquilo era o certo!
Discuti com dezenas de economistas do PT à época e todos endossavam as teses paloccianas – e com imensa convicção: “a política econômica está certa”, “isto é necessário aquilo para acabar com a inflação”, etc.
Aliás, da mesma forma que a burocracia do PT até hoje acha que o Gilmar e o Fux estão certos quando o assunto é “segurança da urna eletrônica”!
Não se bate pela impressão dos votos!
É bem verdade que também entra aí o fato de não querem passar recibo de que não fizeram nada sobre isso por 13 anos. Inclusive, para não levantar suspeita sobre as 4 eleições, sucessivas, que o PT levou, já que eles “estavam no poder” (sic).
(estavam mesmo? Controlavam o Estado? O TSE? A totalização dos votos??)
São, de fato, preocupações reais. Contudo, o potencial custo dessa postura, especialmente em 2018, é claramente maior que eventual desgaste assumindo tais erros do passado.
Da mesma forma, aliás, que o PT defendia que a Lei da Ficha Limpa estava certa… e que, mesmo com o paradigmático caso de Lula, não ousa dizer que esta Lei – com o Judiciário que temos – foi uma gigantesco erro.
O mesmo vale para as leis das organizações criminosas, lei da delação premiada, o respeito estrito à ritualística do impeachment…
Dilma – até hoje! – se gaba por ter promovido a aprovação de leis! Leis essas que, numa contradição em termos plenamente realizada, (re-)criaram o “Estado de exceção” – agora entre aspas mesmo – no Brasil: é o “arbítrio com base legal”!
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O PT não “concilia”: o PT acredita, piamente, no algoz!
O porquê disso exige uma explicação mais elaborada. O PT evoluiu como partido desviando os trabalhadores do brizolismo nacionalista, dos militares nacionalistas e do sindicalismo nacionalista trabalhista. Em resumo, o PT visava a afastar os trabalhadores de todas as heranças do getulismo, do desenvolvimentismo e do trabalhismo. Assim, dividiu a esquerda e os sindicatos, isolou os nacionalistas e impediu que Brizola fosse presidente.
Mas isso só seria possível se o pensamento teórico do partido fosse caótico, diversionista, focado em grupos e movimentos identitários, dogmáticos ou personalistas. Em suma, o PT era um balaio de gatos que não podia tomar posição real em assuntos que pudessem levar a uma aceitação do desenvolvimentismo, do getulismo ou do nacionalismo. Portanto, não podia haver uma síntese de posição teórica porque, se houvesse, acabaria por concluir pelo desenvolvimentismo e pelo trabalhismo, por questões teóricas e empíricas. Assim, o PT não podia ter uma posição clara em política industrial, econômica, cambial, financeira, externa ou militares.
Isso, na prática, fez com que houvesse uma “seleção natural” de uma burocracia que não tivesse formação política e posição política em assuntos de Estado ou estratégicos. Porque nesses assuntos só tem dois lados reais quando se está na prática: ou neoliberalismo, que o PT não podia assumir oficialmente, ou nacionalismo à la Vargas. Como o PT, para se viabilizar, tinha de minar o apoio aos herdeiros do gaúcho e se desvincular do mesmo, optou por nunca ter posição partidária real nesses assuntos.
E em quase mais nada, na verdade. Porque em quase todos os assuntos econômicos e administrativos a posição de Lula era não se comprometer com posição ideológica ou discussão para adoção de posicionamento partidário. Assim, podia assumir posição diferente e parcial (com possibilidade de alteração) a casa conjuntura.
Sobraram apenas duas posições estáveis ao longo do tempo: o moralismo anticorrupção (da boca pra fora em alguma medida) e o combate às desigualdades (idem).
Assim, os burocratas e parlamentares espertos perceberam que cresciam no partido toda vez que acreditassem que a decisão conjuntural da cúpula estava certa, mesmo que não entendessem bem por que. Se a cúpula mudasse de posição, “ela deveria estar certa”, de novo. Quem não saiu do partido nos anos 80, 90 e 2000 foi quem sempre acreditou que a cúpula estava certa, qualquer posição que tomasse. Não havia âncora ideológica que pudesse ser contrastada a ou que pudesse limitar mudanças de direção, casuísticas, da cúpula (exceto em “desigualdade” e “corrupção”).
Penso que isso aconteceu, em menor ou maior grau, com a maioria dos partidos social-democratas mundo afora. Sobraram nesses partidos apenas aqueles que, por conveniência ou outro motivo, seguiam a cúpula em quaisquer circunstâncias. Mas isso acabou virando um padrão de pensamento, indo além da conveniência.
Para a cúpula isso era carta branca para se venderem a posições do inimigo e da direita e assim levar, de graça, todo um mega partido.
Como a cúpula acabou sendo formada por aqueles militantes mais bem-sucedidos em acreditar em tudo o que a cúpula decidia, quando esses caras chegavas à cúpula, passavam a buscar alguém superior a ele para saber como se posicionar, caso Lula ou Dirceu não dessem a direção.
O que aconteceu?
Eles passaram a usar os jornais e qualquer fonte de suposta autoridade externa ao partido como direção.
Se o critério de ascensão era não ter âncora ideológica e acreditar cegamente no chefe, quando se chega a chefe, busca-se qualquer fonte de suposta autoridade para encontrar uma saída de como se posicionar. O petista que ascendeu na hierarquia foi treinado – e selecionado – para acreditar em autoridade e não ter uma âncora ideológica.
Na falta de posição do Lula sobre um assunto, não havia como ele não ver o Judiciário ou a imprensa como a autoridade a lhe suprir suas necessidades de posicionamento político em assuntos reais. Especialmente em questões de Estado, econômicas, comunicação e geopolítica.
Escrevi demais para dizer algo que é simples e corriqueiro. E que se agrava no PT por influência estrangeira.
Não se pode “conciliar” se você não tem uma posição clara e firme, de onde partir para “ceder”. Como o PT nunca teve uma posição clara firme e hegemônica em nenhuma questão de Estado, não tinha o que conciliar, negociar.
Para complicar, tinha a tendência a acreditar em posições de autoridade.
É incrível, mas o PT sempre acreditou sinceramente no tripé macroeconômico e no republicanismo do Ministério Público.
Por sorte tinha Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia na área externa!
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E por falar no Embaixador Samuel e na síndrome de Poliana do PT:
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Mais sobre isso nos artigos linkados nos seguintes tweets:
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ATUALIZAÇÃO 12:50 – discutimos este artigo em live especial – em duas partes – ainda há pouco
Parte 1:
Áudio:
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Parte 2 – Live especial: Golpe do Judiciário e invasão americana – por que o PT não dá nome aos bois?
Áudio:
Artigos discutidos:
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