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Estado brasileiro na encruzilhada. Já sabemos o que a Globo quer... e você?

Queria poder dizer que criei esta montagem, mas não... recebi de um seguidor no Facebook, como comentário a um artigo anterior. rs ...

10.7.17

No fio da história: partidos, movimentos sociais e ação política. Os desafios, hoje (II) (Parte1)



No fio da história: partidos, movimentos sociais e ação política. Os desafios, hoje (II) (Parte 1)


Por Maria e bate-bola do núcleo duro, sobre o artigo "2013: as selfies revolucionárias horizontais e apolíticas" por Fernando Horta

Como chegamos a isso? A perplexidade ante a situação de caos do país torna inevitável a pergunta.

Tentando enfrentar um debate difícil, compartilhei, num "primeiro volume" dessa reflexão, a entrevista da cientista política Clarisse Gurgel à Carta Capital, abordando as novas formas de protesto político pela ótica da "ação performática", um conceito derivado do teatro.

Um enfoque instigante que, no entanto, me deixou dúvidas e indagações, divididas com o "núcleo duro" do blog.

Encontrei parte das respostas que buscava num artigo do historiador Fernando Horta que, sob um enfoque distinto, também analisa, como Clarisse Gurgel, o enigmático significado das "jornadas de junho" 2013.

Para ambos, o ovo da serpente, um prólogo ao golpe de Estado consumado em 2016, com o final do processo de impeachment.

O que está em jogo aqui, portanto, para além da atualidade do noticiário, é uma reflexão sobre a democracia brasileira e os desafios com que nos confronta sua reconquista.

Avaliar o que são, hoje, partidos, movimentos sociais e novas formas de ação política, nesta quadra da nossa história, é buscar trazer uma pequena contribuição a um debate imprescindível na organização da dura luta que nos cabe enfrentar.

Mais matéria para reflexão!


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Foto Fernando Frazão/AgBrasil     TER, 30/05/2017 - 07:39
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http://jornalggn.com.br/sites/default/files/u16-2016/fotor2013fernandofrazaoabr.jpg
É indiscutível que a compreensão da situação brasileira atual passa pelo entendimento sobre o que, de fato, aconteceu em 2013. Em março de 2013 a aprovação de Dilma era de 79%, em junho era de pouco mais de 30%. Saliente-se que em 2013 não houve deterioração efetiva de nenhuma variável econômica. Apenas blogs de economistas da direita ventilavam "explicações" sobre a "contabilidade criativa", dando o tom dos termos que viriam a serem usados contra o Brasil quase 3 anos depois. Em junho de 2013, Dilma sofreu um intenso ataque midiático e não teve presteza para se defender.

Para mim, 2013 é a maior prova de que o pós-modernismo nada tem a oferecer como ferramenta de luta contra um capitalismo financeiro transnacional aliado à onipresença das redes sociais e comunicação imediata. Os protestos de 2013, dizem, tinham uma pauta centrada no transporte público urbano. Deveria se esperar que os ataques danificassem os índices de aprovação dos governos municipais e talvez estaduais. Ressalte-se que em abril, antes dos protestos, portanto, Dilma cortava impostos federais sobre o combustível e aumentava o percentual de álcool e em outubro, Dilma novamente mexia na política de preços dos combustíveis para oferecer margem aos municípios na negociação da questão do transporte.

O primeiro ponto a ser mencionado é que, sobre as "jornadas de junho" de 2013, as narrativas da direita e da esquerda são impressionantemente semelhantes. Ambas reivindicam protestos "apartidários", "sem lideranças", espontâneos e com uma pauta baseada "nos interesses reais da população". É o mito do manifestante "empoderado e livre", fazendo política epidérmica e se relacionando com seus "iguais" na base do sentimento comum. A forma como a direita (e extrema direita) e uma parte da esquerda defendem esta mitificação é muito semelhante. Ambos acharam motivos para atacar o governo Dilma: a direita por ser um governo comunista e parte da esquerda por ser um governo de corte neoliberal. A síntese desta pós-verdade fez com que estes dois grupos de "pensadores-manifestantes" fossem às ruas protestar pelas passagens (uma pauta eminentemente municipal) e terminassem encurralando o governo federal.

De quebra, estas "jornadas" criaram o mito dos "Black Blocs" como um grupo de arruaceiros sem razão nem qualquer sentido político. Destruíram a vida de algumas pessoas (Elisa Quadros, a "sininho", por exemplo) e mostraram que havia um bom espaço para manipulação política no Brasil, desde que as senhas corretas fossem dadas. Este espaço foi visto pela esquerda "anti-PT" como uma forma de finalmente tentar aparecer e pela direita "anti-PT" também como uma forma de finalmente tentar aparecer. (A repetição é proposital estilisticamente).
Nunca se investigou mais a fundo nem a participação de partidos e políticos de esquerda e direita no financiamento e organização das manifestações, nem tais políticos deixaram seus nomes serem mencionados nestes contextos. Afinal, protesto sem liderança, mas com "apoio" do partido A e do deputado X não é bem "horizontal". E todos deixaram a imprensa satanizar grupos de jovens mascarados que, até hoje, são para-raios de todo alegado "vandalismo" no Brasil.
O que aconteceu de fato, e existem inúmeros testemunhos e evidências disto, é que a tese do "apartidário" virou "apolítico" e um protesto sem bandeiras é como uma folha em branco em que a mídia legenda o que quiser para fazer-se entender pela população brasileira. A violência empregada pelos "organizadores" da manifestação "horizontal", no sentido de coibir "símbolos de partidos", foi parte evidente da estratégia proto-fascista dos financiadores dos movimentos. Pessoas dedicadas 24 horas por dia nas redes sociais a levantar o maior número de manifestantes. Algumas destas pessoas hoje têm cargos de confiança em partidos e governos de direita.
Enquanto uma parte da esquerda se via "liberta" de líderes e "pautas" de partidos e acreditava no mito da horizontalidade, independência e espontaneidade, o movimento era vitaminado e capturado pela direita e pelos órgãos de mídia em todo o Brasil. Direcionando as hordas de manifestantes sem pauta ao ataque e defesa de pautas difusas como "contra a corrupção", "não vai ter copa" ou "saúde e educação padrão FIFA". Sem organização, acreditando numa estética do manifestante empoderado, uma parte da esquerda foi totalmente manipulada e, até hoje, se nega a perceber isto. Nem mesmo o bordão "não é só pelos 0,20 centavos" é criação "popular".
Não apenas os governos municipais e estaduais nada ou muito pouco sofreram com os protestos cuja pauta deveria ser o transporte público, como logo após este "experimento social" são deslocados para o Brasil recursos internacionais para formar "libertários" e "treinar jovens lideranças". O potencial de zumbis políticos no Brasil se mostrava imenso. Quando a esquerda de fato, finalmente se deu conta do que acontecia, e mobilizou as bases para retomar a direção dos protestos, a mídia entrou com a narrativa dos "vândalos" e terminou o experimento sócio-político de 2013. Nenhum efeito prático no transporte urbano perdurou. Em algumas cidades os aumentos foram postergados em oito meses. Nada mais.
2013 mostrava três coisas importantes (1) que redes sociais, dinheiro e mídia eram capazes de mobilizações de massa de direita; (2) que o governo brasileiro e as instituições estavam (e ainda estão) incapazes de mapear e coibir a entrada de recursos para desestabilização política centrada nos "think tanks" e que (3) o narcisismo de manifestantes de esquerda do século XXI (e seus celulares sélficos) era semelhante ao narcisismo de manifestantes de direita e, portanto, tudo virava o mesmo caldo que seria arremessado (quente) quando e onde os patrocinadores desejassem.
Nos protestos da semana passada no RJ, parte da "esquerda" voltou a usar a mesma lenga-lenga, vaiando lideranças políticas e exigindo um protesto "sem bandeiras". Parece que não aprenderam e continuam a fazer as mesmas bobagens, talvez pensando que ganharão algo com isto. As eleições na França mostraram bem o resultado da falta de capacidade de compreensão do seu espaço desta esquerda contra-majoritária. Um segundo turno entre Le Pen e Macron, podendo ambos terem sido vencidos pela soma dos percentuais dos dois candidatos de esquerda, alijados por picuinhas internas. Não deixem repetir-se 2013. O ano zero do golpe de 2016.


*

Alguns comentários iniciais à minha publicação do texto no FB merecem registro.

Tania: Não devemos nos esquecer de que esse golpe vinha sendo arquitetado desde os governos Lula.

Eles tiveram muito tempo para se preparar, arquitetar as estratégias, preparar os grupos, encontrar o financiamento para essa juventude com as devidas instruções por parte de professores "bons de papo".

Era só aguardar o primeiro pretexto (os 20 centavos), instigado pela mídia experiente e muito ciente do seu papel.

Maria: Isso mesmo. Você, como o Fernando Horta, salienta os diferentes processos que levaram às "selfies horizontais" nas manifestações de direita ~ e ~ de esquerda.

E o papel da mídia, entre outros agentes, é crucial aqui.

Por isso disse que respondia a algumas das minhas objeções à entrevista de Clarisse Gurgel na Carta Capital postada anteriormente.

Acho que esta é uma boa discussão a se aprofundar.

Tania: Sim, nos grandes círculos de discussão.

Maria: Você acha que vale a pena compartilhar no grupo dos leitores amigos do Romulus?

Tania: Claro, por que não?

Maria: Na voracidade do tempo do noticiário político, não sei se teria interesse.

Tania: Mesmo correndo o risco de ser atropelada por acontecimentos mais urgentes, eu compartilharia.

Essa é uma discussão que merece ser desenvolvida.

Maria: Será que então vamos lá? Sua opinião sempre ponderada e seu senso analítico me convencem.

Piero: Muito bom, obrigado! Vale a pena compartilhar, sim!

Dorotea: Vale muito a pena compartilhar, Maria.

A análise das manifestações de 2013 por F. Horta é ótima, e chama a atenção para o oportunismo de certos setores de esquerda contra-majoritária que, estes sim, pegaram carona nas manifestações horizontais, apolíticas, mitos de espontaneidade, como ele diz.

Gostei muito da imagem da "folha em branco" que essas manifestações proporcionam à mídia, para ela construir o discurso que quiser. 

Não seriam essas as ações performáticas, na verdade, nada espontâneas, arranjadas por organizadores e financiadores proto-fascistas, com as bandeiras vagas e banais a que se refere a autora do outro artigo?

São muito diferentes das passeatas que participei contra o golpe e contra as PEC. E daquela de Brasília da semana passada.

Essas manifestações de direita - sim - me parecem produzidas, espetaculares, como megaeventos teatrais ou musicais, que enchem páginas e mais páginas de imagens bizarras, cômicas, bufonas. 

Sinto que as mídias, além de demonizarem as manifestações de esquerda, criam uma ideia de que as de direita é que são as "bem organizadas", ordeiras e efetivas, como um modelo a ser copiado também pela esquerda.

Nenhum texto alternativo automático disponível.

Maria: Ótimas observações, que avançam a discussão.

Também gostei muito da análise do Fernando Horta, mas não concordo muito que as "manifestações espontâneas e apolíticas" sejam, todas elas, de se enfiar no mesmo saco.

Dorotea: Sim, acho que nós já aprendemos o que está por trás do "apolítico". Mas não entendi que ele tenha se referido a elas como espontâneas. Ao contrário, ele diz que setores da esquerda "se viram "libertos" de líderes e pautas de partido e se deslumbravam pelo mito da horizontalidade, independência e espontaneidade".

Lamento saber que as manifestações de domingo no RJ voltaram a vaiar lideranças políticas e exigir "protesto sem bandeiras".

Nenhum texto alternativo automático disponível.

Tania: Pois é...

*
Alguns comentários dos leitores do próprio Fernando Horta corroboram suas afirmações, descrevendo as manifestações de que participaram em 2013.

E, para o bem ou para o mal, alguns extrapolam essa percepção também para as manifestações de 2016 e 2017.

Richard Klein: Não me saem da cabeça as semelhanças daqueles protestos e as "primaveras" árabes.


Uma onda de protestos através do pais inteiro às vésperas de se afirmar internacionalmente numa Copa e numa Olimpíada não acontece nem por acaso nem sem coordenação profissional.

Fernando Horta: Exatamente.

Richard Klein: Na época, eu e a galera do Brasil Wire fazíamos  parte de um grupo no Facebook chamado Gringoes. Ele era para expatriados brasileiros e estrangeiros morando no Brasil.

Aquilo virou claramente um foco de divulgação de ideias e chavões anti-Dilmistas, com alguns americanos presentes 24/7 divulgando "ideias" e possivelmente recrutando gente. Vários dos que defendiam o governo foram ameaçados fisicamente. Inclusive eu. Daria uma ótima reportagem.


Cristina Aquim: Excelente análise. Na época também já achava isso, e dizia que essas manifestações eram mais para se exibir em redes sociais. Conheço muita gente que nem sequer entra num ônibus brigando pelos 0,20. Foi uma palhaçada.




Cláudio Louro II: Fernando Horta, eu fui às duas primeiras micaralhas (é como eu chamo isso desde então) pra fotografar e logo percebi que havia algo errado.

A tal parte da esquerda que estava lá (aqui no Rio) é o que podemos classificar como PSOL, REDE, etc., o que pra mim não é esquerda.

Na primeira correu tudo "bem" e na segunda apareceram os black bostas, e depois disso, não fui mais fotografar.

A pergunta que fiz, desde o início: se era sem partido e bla bla, quem bancava tantos carros de som? (to te devendo as fotos, vou ver isso hoje).
Tava na cara demais que tinha algo ou alguém por trás... 


Agora, se comparar 2013 com 2017, eu vou ser muito sincero: em 2013 era um bando de acéfalos com cerveja ice e maconha. Em 2017os acéfalos se transformaram em zumbis.

Tinha gente bebendo champagne, e a cocaína comeu solta (não fui mas tenho os meus contatos).

PS: Eu não assisto The walking dead. Pra que, né? é só olhar estas muvucas https://www.facebook.com/images/emoji.php/v9/f4c/1/16/1f642.png:)

Elvys Da Costa Pina: 2017 ou 2016?

Cláudio Louro II: To me referindo ao último aqui no Rio.


Cláudio Louro II: Ou seja, falei das duas pontas. O miolo é todo podre.



Denise Farage: Também fui em uma aqui em Brasília - achei surreal demais - vi de tudo - Hare Krishna - gente fumando maconha, outros bebendo, grupos de evangélicos rezando, grupos lgbt - cada um com um grito de guerra diferente. Não entendi nada - nem achei uma tribo que me comportasse - até hoje ainda não entendi o que foi aquilo!


*

Entretanto, os preparativos para a manifestação que deveria ocorrer em São Paulo no dia 4 de junho recolocaram, na prática e de maneira dramática, as questões levantadas por Clarisse Gurgel sobre as tensões e conflitos na relação entre manifestações "apartidárias", consideradas "livres", até mesmo "espontâneas", e as organizações políticas de esquerda.

Tudo começou alguns dias antes, quando os jornais de 31 de maio estamparam uma notícia surpreendente.

Piero: Não sei se é notícia fake. Em todo caso, vem ao encontro de coisas que temos conversado...


Artistas excluem partidos e sindicatos de ato contra Temer em São Paulo
Ricardo Galhardo São Paulo 31/05/201708h56

Caetano participou de ato que pediu 'Fora, Temer' e 'Diretas-já' no Rio no domingo (28)
Caetano participou de ato que pediu 'Fora, Temer' e 'Diretas-já' no Rio no domingo (28)
 
No rastro da manifestação que reuniu milhares de pessoas na Praia de Copacabana, no Rio, no domingo passado, artistas, produtores, ativistas e produtores, ativistas e blocos de carnaval de São Paulo marcaram para domingo (4) um ato pela saída do presidente Michel Temer e pela realização de eleições diretas. Ao contrário de eventos anteriores, o ato dos artistas não terá a participação de partidos políticos e sindicatos na organização.


"Não temos a intenção de excluir ninguém. Temos o máximo respeito pelas lutas históricas de cada segmento, mas achamos importante termos também a chance de fazer um evento com todos que queiram participar, puxado pelas diversas expressões culturais. Achamos que é uma forma de agregar, ampliar e mostrar a quantidade de gente que quer diretas-já", diz o produtor cultural Alexandre Youssef, presidente do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta.
"Mas não é uma micareta, não. É um ato político", avisa o produtor musical Daniel Ganjaman, que também participa da organização do evento. (...)

*

A discussão que se seguiu no "núcleo duro" do blog é um claro exemplo dos desafios de se pensar organização e participação política hoje, como já mostramos aqui, em postagem anterior.

No fio da história: partidos, movimentos sociais e ação política. Os desafios, hoje (I)
Por Maria e bate bola do núcleo duro, sobre "A esquerda está viciada em seu próprio conforto", por Clarisse Gurgel
 https://lh3.googleusercontent.com/CcYq9FeK7X-5dXcw7Ofs3TbZfeHE4kxvR2EHmu6bhs1AgHI-5nKTW0JDOGAHGHi3aeB1QfDyIoUJ7ge_vy5FaGA0d0PUt8XXf16zjQ8UyYTisbM-npZ5n1sPHfdIc4MaEJPUBROyVfRbGJJxKg


Ciro:  Já tinha ouvido isso ontem de outra fonte.

Piero: Notem as últimas postagens da Maria, tem tudo a ver...

Gustavo:  Exato.

Maria:  É de dar um nó na cabeça! Acredito piamente que eles são importantes e necessários. E agora eles me vêm com essa de que ~só eles!~ são necessários, à exclusão de todos os demais atores políticos? Vixe!

Henrique: Já faz um tempinho que comentei algo parecido, acho que aqui em um outro post.
Dizia eu que o vermelho estava desgastado, negativado pela propaganda. Que seria uma boa tentativa desvincular as manifestações das cores. Parece que não estou só.

Valdir:  Acho razoável, com partidos e CUT as manifestações pró diretas tendem a ficar mínimas, olhando da forma como eles pensam.

Henrique: E da forma como são mostradas pela mídia.


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Piero: Só que nessas podem aparecer mais uns 5 MBLs de graça...
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Gustavo: Pode haver "prós" e pode haver "contras" disso aí. "Partidos" não são tolerados, mas o G. Boulos "é tolerado". ~Candidamente~ pensando, pode ser um "passo à frente" na tentativa de "construir algo" q supere a "crise do partido", mas as "pauladas q levamos da vida" me fazem esperar pelo pior, lá na frente. Novas ~jornadas de junho~ à vista?

Henrique: Temos que trabalhar a ignorância.

Patricia: É o texto do Fernando Horta. E aquela história das manifestações "espontâneas" de 2013...

Gustavo:  do F. Horta e a entrevista com a Clarisse Gurgel, q fala da "crise do partido": https://www.cartacapital.com.br/.../a-esquerda-esta...


"A esquerda está viciada em seu próprio conforto"
por Tory Oliveira — publicado 09/05/2017 00h30, última modificação 17/05/2017 12
Para a cientista política, o campo progressista no Brasil prioriza ações performáticas, como marchas, em detrimento do trabalho de base
Manifestação em Santana do Livramento durante 'greve geral'

Patricia: Não consigo engolir esse discurso de ato por ato sem continuidade. Ficou comprovado que isso não existe, porque alguém uma hora se apropria... Como disse a Maria, o que salva do texto é o que ela fala da falta de comunicação com as bases...

Maria: Postei também na minha TL esse texto do Fernando Horta

Dorotea: Fica aquela ideia dele de "página em branco" em que a mídia dá conta de colocar o seu discurso.

Piero: Exato.

Patricia: É incentivar esse discurso de descontentamento geral com a política e o fora todos.

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Piero: "O primeiro ponto a ser mencionado é que, sobre as "jornadas de junho" de 2013, as narrativas da direita e da esquerda são impressionantemente semelhantes. Ambas reivindicam protestos "apartidários", "sem lideranças", espontâneos e com uma pauta baseada "nos interesses reais da população". É o mito do manifestante "empoderado e livre", fazendo política epidérmica e se relacionando com seus "iguais" na base do sentimento comum. A forma como a direita (e extrema direita) e uma parte da esquerda defendem esta mitificação é muito semelhante.(...)

O que aconteceu de fato, e existem inúmeros testemunhos e evidências disto, é que a tese do "apartidário" virou "apolítico" e um protesto sem bandeiras é como uma folha em branco em que a mídia legenda o que quiser para fazer-se entender pela população brasileira. A violência empregada pelos "organizadores" da manifestação "horizontal", no sentido de coibir "símbolos de partidos", foi parte evidente da estratégia proto-fascista dos financiadores dos movimentos. Pessoas dedicadas 24 horas por dia nas redes sociais a levantar o maior número de manifestantes. Algumas destas pessoas hoje têm cargos de confiança em partidos e governos de direita." 

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Piero: Esse, certo, Patricia ?

Patricia: Isso mesmo...

Henrique: Não pensei em tirar os partidos. Eles se representariam nas falas, no caminhão de som. 
O vermelho está desgastado.
A população tem ressalvas.

Patricia: Aí a gente vê que até nisso a direita contribuiu pra desgastar a esquerda, dizendo que o vermelho não faz parte da nossa bandeira e que todo mundo que é "do bem", "pelo Brasil", tem de ser verde-amarelo!

To falando isso porque, de pirraça, eu, que já adorava o vermelho, agora só vou em manifestação de vermelho! Podiam então deixar livre, fazer com todas as cores, inclusão de todos. Vem quem quiser, com a cor que quiser!

Maria: Bandeira é símbolo de identificação e chamado à unidade na luta por uma causa.

Por que os exércitos levavam à frente um porta-estandarte? Pra lembrar aos soldados que era por aquele símbolo que deviam lutar e, se preciso, morrer. Mesma coisa nos hinos nacionais.
E quem deu à direita o direito de se apropriar da bandeira do Brasil? Pura usurpação! Eles ~não são~ o Brasil!!


Deveríamos nós então abandonar nossos símbolos de identidade e, "porque o vermelho está desgastado, a população tem ressalvas", vestir verde-amarelo e só brandir a bandeira do Brasil? Pura usurpação novamente!

Mesmo empunhando essa bandeira, nós ~não somos~ o Brasil, tanto quanto a direita.

Somos cidadãos com uma história inteira de representação de diferentes segmentos da sociedade e, juntos, lutamos pelo direito de ~todos os brasileiros~ de escolher seu governante!
Essa diversidade, que é a nossa riqueza democrática, é o que se pretende abolir!

Bendita sabedoria do Osmar Santos conduzindo os comícios das Diretas! O que querem os corinthianos? Diretas já! E os palmeirenses, os são-paulinos? Diretas já!

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E os flamenguistas, os fluminenses? Diretas já! E os galos, os cruzeiros, os bahias, os vitórias, os santa-cruz, os náuticos, os gremistas, os internacionais, os....? Diretas já!

É essa diversidade que, somada, ~é~ o Brasil!

Aliás, quem, dentre os coxinhas, que têm "ressalvas" ao vermelho, iria à manifestação, se soubesse que é convocada pelo Povo sem Medo, com ou sem bandeira?

Representar os partidos nos discursos (?!) no caminhão de som, num mundo dominado pelo império da imagem?

Um absurdo essa estupidez do sectarismo político ~da esquerda~, que só vai nos dividir ainda mais, quando tanto precisamos de unidade!!

Henrique: Falo como publicitário: não é abandono de símbolos, apenas reposicionamento de marca. Havaianas fizeram esse trabalho. Não abandonaram sua marca, mas conquistaram um mercado arredio.

O desgaste existe, atrapalha. As pessoas repelem o vermelho na política. Associação com comunismo, com o PT. É preciso reinventar, reposicionar. Fazer o contrário. Não adianta empurrar goela abaixo.

Não é o vermelho simplesmente. É o vermelho na política. Ninguém sai apedrejando o carro da coca cola, nem Papai Noel.


O massacre midiático foi feito, existe e está aí. É incontestável. Ignorar isso é tapar o sol com peneira. Vermelho é igual a comunismo que, para a massa, é sinal de perigo. Enquanto essa imagem não for desmistificada, será assim.

É preciso mudar esse pensamento. Trabalho árduo, demorado e sem garantia.

Não se trata de abrir mão, de ser menos ou mais brasileiro. Eu sei disso, sabemos todos. Certamente somos mais brasileiros do que esses que entregam nossa soberania em troca de alguns dólares. Sim, somos.

Se o custo da unificação da luta, se para que o povo se aproxime das forças progressistas for trocar o vermelho pelo roxo com bolinhas brancas, que seja. Vale o sacrifício. Nada adianta persistir na cor e não conseguir dar o recado.

A cor é o que menos importa.
Todo artista tem que ir onde o povo está.


Para encerrar:
No célebre comício das diretas, aqui no RJ, que por acaso estava lá, os partidos se fizeram representar e não lembro de ver o vermelho sobressaindo. Aliás ninguém. 
Ulisses, Brizola, Sobral e muitos outros no mesmo palanque.

Maria: Sim, as principais lideranças dos partidos, todos juntos, inclusive o Lula, com seu infalível cigarrinho na boca...


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Agora, vermelho sobressaindo?

Em 83-84, o PT tinha pouco mais de 3 anos de fundação, a bandeira da estrela representava só um pequeno partido operário criado em São Paulo.

Compare com a tradição trabalhista do PTB de Getúlio, roubado do Brizola e que ele recria no PDT na mesma época. Ou com o PMDB, versão partidária do MDB, onde havia desaguado toda a oposição ao regime desde a extinção dos partidos, ainda em 64. Mais antigos que eles só mesmo o PCdoB.

O PT representava apenas a força da resistência operária nas greves heroicas do ABC de 78-79.

A própria CUT, depois das reuniões preparatórias do CONCLAT, seria criada em São Bernardo só em 1983.

De onde, então, viria um mar de bandeiras vermelhas naquela época?          
Comício das Diretas Já, na Praça da Sé

Elas são desde aquele tempo o símbolo da luta dos trabalhadores que, inclusive, levou Lula à Presidência.

E é esse símbolo que a direita quer nos confiscar, porque a "opinião pública" não gosta do vermelho?

Zeca: Vermelho ou não, a confusão está instalada!

É desmentido para um lado, desmentido pro outro, coxinhas já falam que não tem essa de diretas já, é ato juntos, artistas à esquerda dizem que não vetaram nada.

Ou seja, não há a mínima condição de compor com os coxas no clima atual.

O grande showmício já nasce torto e, se bobear, morto.

Henrique: Para a felicidade geral da direita.

Giselle: Acho um absurdo recusarem partidos. Pelo que entendi, o ato de SP não foi organizado pelo Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular, mas sim por um produtor artístico. Capitalismo oportunista na veia!

Ele chamou o Boulos porque sem ele não há povo, me parece que é uma tentativa de chamar coxinhas que não querem se misturar (rsrsrsrsr).

O PT já mostrou que só eles e a CUT colocam gente na rua.

As TFP de hoje não são diferentes das de 64, foram convocadas e com campanha maciça do Judiciário com a Globo para pôr gente na rua, e ainda inflacionaram.

Não desprezo essas pessoas, mas sabemos como elas são movidas.

Paula: Os organizadores desta manifestação já desmentiram.

Piero: O desmentido foi emitido por um salmão. Escorrega.

"Partido pode". Claro, a rua é pública.
E, pra esse fim, partido traz gente.
Mas tá claro: não vai ter Lula em palanque.

De novo, vão usar a fórmula de 2013.
Ta demorando pra alguém ventilar o "vá de preto".
E aí...
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Artistas do #MoroBloco e do #NãoVaiTerGolpe se unem no #TemerJamais




instagram da leticia sabatella. reune artistas que eram contra e pró-dilma, agora unidos contra temer. Instagram de Letícia Sabatella reúne artistas contra e pró-Dilma, agora unidos no #TemerJamais http://www1.folha.uol.com.br/.../1889489-artistas-do...


Giselle: E aí tem que olhar na cara dos #Morobloco e dizer a eles: sejam bem-vindos às consequências da sua imbecilidade.

Mas agora peguem na minha mão e não façam mais bobagem! Rsrsrsrsrs

Zeca: Tá esquisito. Fazer política sem político se aproxima da "escola sem partido", sem discussão.

Já não bastava o Judiciário e agora vem a república dos artistas?

*

Na disputa entre os agentes envolvidos nessa manifestação, há questões que remetem a diferentes camadas de significado.

Primeiro, cabe notar que é em nome de sua liberdade individual e independência enquanto categoria profissional que os artistas reivindicam o direito de organizar a manifestação por conta própria.

E evidenciam uma unidade de propósitos quando, à direita e à esquerda, de início rejeitam a presença das organizações políticas tradicionais – partidos, centrais sindicais e movimentos sociais – até então responsáveis pela condução desses eventos.

Entretanto, afirmam a natureza política da manifestação, que "não vai ser uma micareta". Assim, tornam clara a sua recusa de que ela seja aparelhada por organizações políticas.

Em princípio, o objetivo de produzir uma manifestação "unitária" justificaria essa escolha, que de fato reuniu um #MoroBloco a um #NãoVaiTerGolpe contra um inimigo comum, #TemerJamais.

Uma segunda razão, de ordem tática, poderia ainda ser invocada: a tentativa de restituir um sentido de "unidade" à nação dividida pela polarização extrema de posições ideológicas antagônicas, espalhando o contágio de um sentimento irracional de ódio, que acaba por se tornar recíproco.


Entretanto, essa "unanimidade" assim conseguida graças ao apagamento das diferenças acaba por se revelar como uma "unidade vazia", tal como a bandeira nacional brandida nas ruas em nome do combate à corrupção.

  
É essa unidade que é "perturbada" pela diferença, aquela das inúmeras organizações que, em nome de distintos segmentos de trabalhadores, lutam por todo o povo, pelos seus direitos e por eleições que restaurem o processo democrático após o golpe, numa nova campanha das Diretas já!


Pois é verdade que não dá no mesmo lutar contra a corrupção, um mal endêmico, que afeta todo o universo da política – levando à sua deslegitimação, desqualificação e, finalmente, repúdio: "que se vayan todos" – ou lutar pelo restabelecimento da ordem democrática, violada por um golpe de Estado.

Aí, sim, contra o pano de fundo desse conflito encoberto, no cerne do conflito ideológico que divide a sociedade, causa "perturbação", frente à "unidade" da bandeira verde-amarela, a profusão das diferentes bandeiras vermelhas.


Por isso todas elas precisam ser amalgamadas em conjunto num genérico repúdio ao "comunismo", desenterrado do fundo do conservadorismo nacional e das catacumbas da Guerra Fria por uma mídia sem escrúpulos empenhada na disputa de poder nas lutas políticas do país.   

Assim, a manifestação paulistana, seguindo a mesma lógica dos movimentos identitários pós-modernos, ao se reivindicar como "dos artistas", se revela como protesto libertário, autonomista e apartidário, para tornar-se, enfim, "apolítico", isto é, parente despistado da direita autoritária.

Resultado de imagem para o povo unido não precisa de partido

É uma lógica que, mesmo que fundada em razões distintas, pouco se diferencia daquela revelada por Clarisse Gurgel e Fernando Horta a propósito das manifestações de 2013.

*

Importa ver, no entanto, o que resultou dessa proposta. Segundo a informação da mídia, vários artistas entrevistados declararam que participavam do protesto contra "uma corrupção indecente", "que envergonha o país".

Apenas Otto mencionou que aquela era sua forma de, como cidadão, colaborar com demandas mais amplas que as de sua condição de artista.

Difícil dizer se tais declarações eram expressão de convicção ou de um pacto estratégico, limitando a reivindicação à saída do presidente rejeitado pela maioria da opinião pública.

"Em nome do nosso direito de ir e vir,  amar, votar, sonhar, fora, Temer!", disse Maria Gadú. Aparentemente, a reivindicação de Diretas já não deve ter sido frequente, visto o destaque que lhe é dado na fala de Boulos. Nas mãos de Chico César, ela parece apenas um pequeno cartaz envergonhado.

Ato com shows pela saída de Temer e por eleições diretas reúne artistas e entidades em SP
Série de shows no Largo da Batata começou com o cantor Chico César e teve, entre outros nomes, Maria Gadú, Criolo, Emicida, Pitty e Tulipa Ruiz.


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Contudo, mais que a informação da mídia, parecia-me importante verificar também a impressão e a reação dos militantes que participaram do ato.

Colho ao acaso das notificações do FB a postagem de um amigo, Wagner Moraes, que republica fotos de seu amigo Daniel Kenzo, militante ponta-firme, presente em todas as manifestações e eventos de luta da esquerda, do movimento sindical ao MST.

O testemunho de quem esteve lá.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, multidão, céu, noite e atividades ao ar livre

Se durante o show a ordem é recolher bandeiras, para não atrapalhar a visão das "atrações" no palco, sempre há um boné, não? E o vermelho ta desgastado? E bandeira não podia, né?

 
Não adianta! Selfies não são marca apolítica de direita. Nem de esquerda cirandeira, como diz um amigo de Natal. São testemunho: Eu estive lá!


Ah! reparem na sacolinha literária internacionalista, Travessias Póeticas Brasil & Portugal. Quem disse que cultura não toma partido? E militante tá lá, firme! Numa manifestação tanto quanto numa Feira do MST…

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Retomo a conversa no `núcleo duro'.

Maria: Continuando o comentário que não terminei. As grandes manifestações de massa levantam questões complicadas.

Naturalmente, elas não surgem do nada, são organizadas, mas seu êxito está além dos organizadores e depende da participação "de fora", seja ela "espontânea", convocada por eles próprios ou por outros.

Seu sucesso será medido pela quantidade de pessoas que conseguirem atrair. Nesse sentido, todas são, por princípio, "espetáculo".

Não há nada mais espetacular que as multidões que participam da Parada Gay. Famílias inteiras fazem dela seu grande programa nesse dia de domingo.

O mesmo vale para os shows de 1o. de maio da Força Sindical.

E por que não para... o show do RJ pelas Diretas?!

Por serem "espetáculo", nem por isso deixarão de ser manifestações políticas, ainda que com diferentes graus de compromisso e adesão a uma "causa"...

Porque conferem ~visibilidade~ e um certo tipo de legitimidade "para fora" às causas que defendem.

Nunca vi na Parada Gay hostilidade ou zombaria aos participantes LGBT, porque as pessoas "de fora" se interessam sobretudo pela diversidade e graça do desfile.

 
No entanto, ele se realiza em defesa de uma causa, explícita e de difícil aceitação. E em torno de um tema geral a cada ano, que ilumina algum aspecto importante da causa.

Naquele domingo, 18 de junho, em São Paulo, o tema era a Defesa do Estado Laico. Acertadamente, considerando a "competição" moralizadora dos evangélicos com a Marcha para Jesus realizada na mesma semana, e ainda por cima no dia da celebração católica de Corpus Christi...
 

Também a manifestação do Rio de Janeiro pelas Diretas não deixou de ser um show, ainda que perpassado inteiro por palavras de ordem políticas, e convocado explicitamente para esse fim por organizações políticas.

O show paulistano se diferenciou dele por ser político pero no mucho, já que trazia só ~meia~ palavra de ordem, e por ser organizado de forma autônoma pelos artistas.

A presença de partidos e organizações de esquerda acabou sendo admitida meio a contragosto, como "convidados" ou "penetras", ao gosto do freguês...

Já os shows da Força apagam quase por completo a dimensão de luta do 1o de maio, visto como Festa do Trabalhador, divertindo os participantes com as atrações sertanejas e os fabulosos sorteios de carros.


Portanto, nem toda manifestação-espetáculo se confunde com ausência de política, que, num sentido ou outro, sempre estará presente.

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Tenho impressão de que, embora menos que Clarisse Gurgel na entrevista da Carta Capital, também Fernando Horta, em alguma medida, tende a descartar tudo isso como perigosamente "apolítico".

Certamente é o caso das manifestações de 2013 e suas bandeiras mais que confusas nas palavras de ordem genéricas e vazias contra a Copa, as Olimpíadas, assim como nos carnacoxinhas do impeachment.

E também é verdade que ~certa~ esquerda contra majoritária se encantou com os mitos libertários da "espontaneidade", "horizontalidade" etc. etc., tornando-se espetáculo "apartidário" por sua "autonomia" em relação aos partidos. Isso, embora mantivesse contato com eles, mas acabando de fato engolfada no reacionarismo de direita.

Mas o que fazer com essas manifestações de massa que se espera irão crescer, na ampliação da campanha das Diretas, agora que o governo Temer se desfaz e sua sucessão periga aumentar a crise?

No atual quadro de desgaste da vida pública, escancara-se cada vez mais a ilegitimidade da disputa das forças políticas que tentam tomar de assalto o poder do Estado.

Então o povo – a menos de se ver derrotado de antemão, dada a inutilidade da luta até agora– deverá engrossar tais manifestações. Que, se vierem a ocorrer, tenderão cada vez mais a assumir a forma de grandes "espetáculos".

Descartar os shows musicais ou os artistas de rua, porque isso compromete a "seriedade" política das manifestações?

Ou tentar entender isso como forma legítima de manifestação política e com uma linguagem própria?

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Há tempos eu mesma insisto na questão levantada por Henrique, convocando o talento de publicitários, cartunistas e outros artistas da imagem a reinventar nossa linguagem política.

Sim, é possível mudar a cor da bandeira do PT, mas com um sentido político próprio, não como marketing destinado a não desagradar uma "opinião pública" envenenada pela mídia.


Por que não uma bandeira da estrela que sinalizasse a causa ambiental e do MST, trocando o vermelho pelo verde, tal como o movimento das mulheres o trocou pelo lilás?

Uma charge do Aroeira vale, sozinha, por várias postagens de blogs ou artigos nossos, por ~mostrar~ de forma intuitiva e imediata o que tanto nos esforçamos por ~explicar~ em palavras.

Da viagem de Temer à República Soviética da Rússia (?!) ao julgamento do pedido de prisão de Aécio – o "homem de lata" – que bombam na hora no noticiário, Aroeira diz tudo na sua maravilhosa linguagem sintética da imagem.


Em que medida essas não são
linguagens próprias à "sociedade do espetáculo" contemporânea, na era do efêmero e da comunicação instantânea?

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Pensando ainda mais longe: Por que a alegria da festa, que vai de par com a forma-espetáculo de uma manifestação política, deveria ser repudiada?

Como esquecer que a alegria festiva é um poderoso instrumento de mobilização de massa, motor de esperança e celebração, real ou antecipada, de vitória?
 
E que o ethos festeiro da cultura brasileira estará presente como sempre esteve, como parte dessas manifestações?

A ~neutralidade~ da alegria festeira – que se metamorfoseia em cada caso, da comemoração da vitória do time ao evento político, passando pelo Réveillon – sempre carregará consigo uma legitimidade própria.

Mesmo quando a manipulação que demoniza as manifestações de esquerda tenta mostrar ~somente~ a organização "ordeira e alegre" dos desfiles coxinhas como modelo de "seriedade política".

Pois instrumentos de percussão não estão sempre presentes nas nossas manifestações, improvisando batucadas para ritmar palavras de ordem ou fazendo intervalos para um solo, voltando a aquecer o ambiente que ameaçava cair no desânimo?

E não é verdade que pequenos shows musicais ou performances de teatro de rua foram parte essencial da mobilização e participação nas primeiras manifestações de resistência ao golpe  no #OcupaMinC?
 

Amnéris: A alegria já é política, pois indica aumento de potência...

Maria: Pois é... Mas, então, que fazer? Estou pirando ou existe aqui um problema verdadeiramente complicado?

***
(Continua na Parte 2, a seguir)


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