17.11.16

Já riu? Agora senta e chora: a morte da soberania popular por envenenamento


Já riu da invasão ao Congresso?

Ok... agora senta e chora:

O assassinato da soberania popular por envenenamento.


Por Romulus

Todos rimos ontem da patética invasão do Plenário da Câmara dos Deputados por militantes de extrema-direita, pedindo “a intervenção militar” no Brasil.

Sem esquecer, é claro, da louvação que faziam ao juiz Sérgio Moro.

Como não haveriam de se identificar com o “camisa negra” de Curitiba, não é mesmo?

*

Ali, do outro lado da Praça dos Três Poderes, o noticiário registrou também o bate-boca entre os Min. Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski na sessão plenária do Supremo Tribunal Federal:


*

Pela manhã, ficáramos sabendo da prisão do ex-governador do Rio Anthony Garotinho.

Conhecidos meus do Rio, apoiadores do golpe, vieram me perguntar no Whatsapp, com ironia, se agora também iria reprovar essa prisão.

Poupando-me o esforço, apenas copiei e colei link do que postara mais cedo nas redes sociais, assim que soubera da notícia:



*

Acho que mandar o link ontem foi suficiente.

Parece que meus conhecidos finalmente entenderam que a crítica às manipulações do consórcio casta jurídica / oligopólio midiático não é partidária.

Isso porque até agora não recebi nenhuma pergunta, novamente em tom de ironia, se ia criticar a prisão de outro ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, também.

Logo ele: o “traidor” de Dilma Rousseff. Aquele que, de maneira decisiva, fez a balança do PMDB pender para o golpe, quando fez as fileiras do partido no Rio aderirem à conspiração.

Se esses conhecidos viessem de novo, com ironia, me cobrar coerência hoje, iam ser frustrar mais uma vez com um novo link:



Aliás, um link apenas não...

Vários:















Atualização 18h:

Realmente acabou mesmo... bacharéis em Direito: 

- Joguem o diploma na lata do lixo!

Ou, como eu, saiam do Brasil:






*

- Invasão do Parlamento...

- Desmoralização no (e do) STF...

- Prisão de dois governadores do Estado com o segundo PIB da federação...

À primeira vista eventos desconexos, não?

Coincidem - e acabam dividindo as “capas” dos noticiários online... - apenas pela álea da vida, certo?

Será mesmo?

Ou haverá um subtexto que os une?

*

Acredito que há sim:


Mas antes....

“Enriquecendo” essa narrativa, eis alguns precedentes de desrespeito – em nível inédito mesmo para os padrões brasileiros – a figuras eleitas pela soberania popular:

Na câmara...

... e no Senado.


Note-se que nem Sarney, nem Collor, nem Fernando Henrique, do ~ alto ~ de suas baixíssimas popularidades, foram agredidos de forma semelhante.

Não...

O nível e a frequência dos ataques aumentaram bastante depois que o primeiro Presidente que não vinha da Casa Grande chegou ao poder.

Haveria dessacralização maior da cadeira de Presidente do que ter “aquele Lula” sentado ali?

Para essa gente certamente não...

Mas engana-se quem pensa que - apenas - a classe é o problema.

Não... o (ódio no e do) Brasil é bem mais profundo:

(peço desculpas por ter de reproduzir tamanha baixeza)


E no Congresso?







*

Será o fenômeno apenas brasileiro?

Nada disso.

Lembremos do deputado do Tea Party que chama Obama de “mentiroso” em pleno discurso na câmara baixa do Congresso americano:



E ainda da repórter conservadora que, desrespeitosa, chamava “Obama” pelo nome em entrevista coletiva na Casa Branca.

Rompia, deliberadamente, com a praxe de, desde tempos imemoriais, adicionar o “Presidente” antes.



Afinal...

Pode ter “canudo de Columbia e Harvard...

... pode até ter sido eleito Senador e Presidente...

... eleito pela... “argh!”... soberania popular...

Mas...

- ... Não deixou de ser um ~ preto ~, não é mesmo??

*

Como digo acima, colhemos, agora, os frutos da demonização da política e da desmoralização das instituições.

(além, é claro, da conjuntura de ressaca reacionária e de refluxo do politicamente correto)

Mas...

- Quem está por trás dessa agenda?

- Por quê?

- E quais as suas correias de transmissão?

*

Sugiro algumas hipóteses no trecho que reproduzo abaixo de post que publiquei no dia seguinte ao primeiro turno das eleições municipais deste ano:

Sr. Indiferença e lobbies vencem eleições de 2016

(publicado em 3/10/2016)


[Nota: fui alertado por leitores de que, na versão mobile, aparece um fundo branco por trás do texto a partir daqui. Isso ocorre porque a postagem foi colada a partir do original, lá no GGN. As figuras não abriam automaticamente tampouco. Esse problema já resolvi! O fundo branco, se for mexer, alteraria toda a formatação. Mas notem: na versão web está tudo certinho]

(...)


(III). Como chegamos aqui (1)
A demonização da política logra pouco a pouco o seu intento: um grau ainda maior da já alarmante alienação da população brasileira, alheia a tudo e a todos nas instâncias do poder.
A população está:
(i) Saturada da política e dos políticos, todos “farinha do mesmo saco”; e portanto...
(ii) dessensibilizada/anestesiada diante dos sucessivos fatos políticos; e portanto...
(iii) indiferentecínica.
– Tanto faz como tanto fez...
*
(IV). Patrimonialismo versão millennial
E assim, sem o contrapeso mínimo das urnas – magrinhas, magrinhas, coitadas... – e de bases eleitorais atentasativas e mobilizadas, fica mais fácil ainda impor a agenda dos lobbies dos diversos setores da economia em prejuízo do todo da sociedade. Trata-se da versão millennial do velhíssimo patrimonialismo... lá do Weber e do Raimundo Faoro, lembram?
Se o Estado mínimo e a “privataria” não passam no teste das urnas, dá-se golpe, todos (já) sabemos.
Mas isso não significa que antes, durante e depois do golpe não se possa aproveitar a estrutura existente do Estado em favor de certos interesses particulares, não é mesmo?
(a) Como?
– Com a autoridade devidamente “capturada" pelos lobbies (regulatory capture).
(b) O entrave:
– O poder político... “essa gente” eleita que “não entende nada da parte técnica”, escolhida de 4 em 4 anos por “gente que entende menos ainda!”. Imaginem: a maioria deles não tem nível superior, não passou por disputados concursos, não tem pós-graduação no exterior... sequer frequenta colóquios bacanas dos stakeholdes todo mês, ora!
(c) A solução:
– A busca cada vez maior de independência – em face desse tal “poder político” – dos órgãos do Estado judicantes, com poder de polícia e reguladores.
Notem que “coincidência”:
– Não parece muito mais fácil implementar essa agenda independentista num contexto de (i) desgaste da classe política, (ii) vácuo de poder, (iii) déficit de representação e (iv) cinismo da população, culminando numa democracia sem vigor, abatida pela indiferença e caracterizada por baixas taxas de votação?
Evidente que sim!
Resistir à sanha independentista quem haverá de?
(d) Exemplo de captura?
– A famosa porta-giratória (revolving door), que faz o diretor do Banco Itaú (e antes desse o do Bank Boston e antes desse o do George Soros e antes desse...) virar Presidente do Banco Central do Brasil. Apenas para amanhã voltar ao Itaú (e congêneres...) com o passe ainda mais valorizado.
(e) Sonho de consumo dos independentistas?
Escrever “em pedra” a pretendida independência diante da sociedade e de seus representantes eleitos.
Como?
Com leis de boa governança que consagrem essa "independência" – aliás, “boa governança” segundo quem mesmo, hein?
Mandatos fixos de diretores e presidentes... indemissíveis pelo poder político...
– Oh, glória!
Sim, “independência”...
Mas, impertinente que sou, ouso perguntar:
– "Independência" de quem, cara-pálida? Do Itaú – da ida e da volta da porta-giratória – é que não haverá de ser, não é mesmo?
Banco Central é apenas o exemplo mais evidente, em um Estado cuja metade do orçamento foi capturada por rentistas. Mas isso se repete em todos os segmentos econômicos regulados pelo Estado: CVM, CADE, SUSEP, ANVISA, ANP, ANA, ANAC, ANTAQ, ANATEL, ANEEL, ANS, ANTT... ou nos segmentos em que o Estado atua através de estatais (Petrobras, BB, CEF, Eletrobrás...).
E não apenas...
O Supremo não autorizou juízes (!) a embolsar cachês pagos por palestras sem que o seu valor tenha de ser tornado público? Aliás, bota – caché – nisso... nunca uma denominação foi tão adequada!
Para além de “cachês” – escondidos – por “palestras”, que dizer de cursos no exterior pagos por “terceiros generosos” (quem?)? Dentre os quais até mesmo interesses estrangeiros, incluindo governos que não o nosso?
Algo a ver com essas observações aterradoras do Miguel do Rosário, no Blog do Cafezinho?







- Captura do regulador?
- Conflito de interesse?
- Risco moral do regulado (moral hazard)?
- Abuso de poder de mercado dos regulados?
- Ineficiência do mercado viciado?
- Busca de renda por quem é “amigo do rei” (rent seeking)?
Será tudo isso preocupação de marxista radical?
Ou até de quem leu os manuais de Economia (bastante) ortodoxos e que crê – de coração – no capitalismo?
Digo, o capitalismo verdadeiro: com seus “mercados competitivos”, livre entrada de novos competidores e livre saída de empresas ineficientes.
Está aí a telefônica "Oi" para não nos deixar esquecer de como o "capitalismo" (entre aspas mesmo) e seus "riscos" (novas aspas...) “funcionam” (mais ainda...) no Brasil.
E isso não é tudo:
Trata-se apenas de uma das modalidades de captura das autoridades, na classificação proposta por Engstrom. No caso, a captura material. Além (a) da porta giratória e (b) da propina, essa modalidade engloba também (c) os “célebres” financiamentos de campanha e (d) a ameaça de boicote econômico-financeiro ao Estado em caso de “desacordo” com o lobby.
Soa familiar?
Pois é...
Segundo o autor, todas essas sub-modalidades equivalem em alguma medida a corrupção política. Ou melhor: corrupção da política.
Já a captura não material é mais sofisticada: pode ser também denominada “captura cognitiva” ou “cultural”, na qual o regulador – e/ou o juiz e/ou o procurador! – começam a pensar da mesma maneira que o lobby!
- “Lobby”?
- Seria esse apenas o privado?
- Por que não se incluiriam aí também governos estrangeiros?
- Ou terceiros “generosos” querendo iluminar o pobre Brasil de sabedoria?
A assimilação da catequese advém (i) da proximidade (indevida?) entre lobby e autoridades; bem como (ii) da embalagem bonita do “presente” que “generosamente” é dado.
- Aliás, “presente”... será presente de grego a troianos ávidos e ambiciosos?
- Troianos antes circunscritos por uma fronteira, digo, muralha, que impedia o ato de generosidade de se realizar?
- Hmmm...
Saga homérica ou não, chega-se finalmente ao ponto em que as autoridades são pautadas – agora já involuntariamente, na fronteira entre o seu consciente e inconsciente – pelo lobby catequizador.
Exemplo 1:
O lobby já entrega o trabalho pronto – bonitinho e até com grife de banca chique! Assim, como não haverá de prevalecer a lei do menor esforço, tão bem resumida por dois comandos: “Ctrl + C” / “Ctrl + V”?
Algo a ver?



E aqui?




Exemplo 2:
Em tática mais sofisticada ainda, e de longo prazo, o lobby, através do financiamento de pesquisas, colóquios entre pares e lisonjas – tais como premiações – consegue estabelecer – não a sofridas marretadas mas a deleitáveis queijos, vinhos e “verdinhas” – o “consenso científico” em determinado domínio técnico.
Mas notem bem: não qualquer consenso científico, aleatório... trata-se de um consenso científico específico: aquele que o lobby tem por “certo”... aquele para chamar de seu.
Aliás, como acadêmico não posso deixar de me perguntar:
– Se o ponto de chegada já é pré-estabelecido na saída, há que se falar ainda em “cientificidade” para esse “consenso” (olha as aspas aí de novo...).
Pois é... também digo que não.
A maneira como o credo neoliberal impregnou – mediante generosos financiamentos – os maiores centros do conhecimento econômico, do final dos anos 70 até a primeira década do século XXI, é o exemplo de manual (textbook case) dessa tese.
Para quem comungava do credo: dinheiro, fama e glória.
Para quem o criticava: penúria, opróbio e ridicularização.
Fácil chegar a um “consenso” (aspas) “científico” (de novo...) assim, não é mesmo?
Foi preciso a maior crise econômica e a maior recessão desde os anos 30 para que esse “santo graal” caísse no chão e se estilhaçasse. Mas não sem deixar profetas atrasados na Periferia do mundo, ignorantes da (nova) “Boa Nova” do Centro.
[Ver “Trem-bala para o abismo – a política econômica da recessão, de André Araújo, aqui no GGN]
Lisonjas... lobby... captura não material... corrupção da política...
Algo a ver?




(exemplos - infelizmente - não exaustivos)
*
(V). Como chegamos aqui (2): correias de transmissão
Voltando ao início do artigo, falávamos de:
(i) Saturação com a política e com os políticos; e portanto...
(ii) dessensibilização/anestesia; e portanto...
(iii) indiferençacinismo, que levou a...
– Número recorde de abstenções, votos brancos e nulos. O tal “tanto faz como tanto fez”...
Mas atenção para as correias de transmissão que nos trouxeram até aqui:
(a) Noticiário mundo-cão na (e da) política na grande mídia; e portanto...
(b) Demonização da política em geral e de certas forças políticas e certas correntes de pensamento em particular; e portanto...
(c) Dessensibilização / indiferença, desprezo e cinismo; e portanto...
(c) Alta taxa de abstenção e de votos brancos e nulos; o que reflete...
(d) "Bases" (com aspas...) eleitorais alienadas, indiferentes, e políticos eleitos fracos, sem o respaldo de urnas "gordas"; o que cria um vácuo de poder suscetível à...
(e) Busca de independência das autoridades não eleitas.
I.e., “independência” do poder político, bem entendido! Não do segmento econômico regulado e de “terceiros generosos”, no Brasil ou fora dele.
– E quem é que fornece a graxa que faz as polias da grande mídia girarem, girarem e girarem...? Mídia que: (1) produz o noticiário mundo-cão da política; e (2) vende aqueles tais “consensos” (aspas) “científicos” (de novo...) como “a verdade revelada”?
Ora, quem fornece a graxa à mídia são eles mesmos: os lobbies!
Atenção para o "plim-plim"! Num oferecimento de Itaú, Bradesco, Vale, Ambev, seguradoras, indústria farmacêutica, Shell, Gol/Tam, Vivo/Claro...

E assim se fecha o círculo de captura das autoridades não-eleitas pelos lobbies, que passam a buscar independência do poder político para melhor corresponder às expectativas dos patrocinadores. E por que não dizer captura também do eleitorado, nesse caso por omissão (induzida)?
O resultado – de hoje – está aí embaixo, descrito pelo amigo Ciro.
Urnas vazias... cinismo e indiferença... demonização da política... lobbies... captura das autoridades e dos eleitores... tudo isso num círculo infernal.
Nada é “coincidência”.
E as correias de transmissão de que falamos seguiram rodando enquanto você lia este texto.
Como perguntei acima: resistir quem haverá de?

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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como "uma esquerdista que sabe fazer conta". Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também. 







5 comentários:

  1. citando Gramsci, “O velho mundo agoniza, um novo mundo tarda a nascer, e, nesse claro-escuro, irrompem os monstros”.

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    Respostas
    1. vc viu a justificativa do Moro p/prisao preventiva do S. Cabral?
      Atualizei e coloquei ai em cima...
      Ele nem se da ao trabalho de disfarçar mais.
      R.I.P. Republica Federativa do Brasil.

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  2. Apesar do patético ato de ontem, fiquei me perguntando como eles entraram no congresso. Será que não tem um dedo daquele deputado nazi-fascista? Piero.

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  3. Quem pode contra o "Império"? Mais suspiros...

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  4. Já saiu em algum lugar q a ação dos direitistas foi facilitada e coordenada por um dos Bolsonaros.
    É muito triste o q está acontecendo por aqui e nem sei mais o q fazer. No DF quem comanda a PM é o MP. Acabou o Brasil.

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